BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Brasil vai ser um país cada vez mais velho. A mudança na estrutura etária do país é inevitável, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), divulgado no último dia 13.
O levantamento apontou que, em 2010, a população brasileira somava 194,7 milhões de pessoas e, em 2100, deve cair para 156,4 milhões. No intervalo, a proporção de idosos, que era de 7,3%, pode chegar a 40,3%, período em que o percentual de crianças e jovens até 15 anos tem chances de cair de 24,7% para 9%.
Aumento da expectativa de vida, menor taxa de mortalidade infantil e a menor taxa de fecundidade contribuem para que essas projeções se tornem realidade. Com isso, os planos de saúde terão que lidar com mais beneficiários que, possivelmente, sofram de doenças crônicas e que exijam atendimento contínuo.
“Quanto mais velho, maior o uso do plano de saúde”, diz José Cechin, superintendente do IESS(Instituto de Estudos de Saúde Suplementar).
Para Cechin, neste cenário, é natural a tendência de verticalização dos planos de saúde, com as instituições passando a ser donas de todas as frentes de atendimento médico, como clínicas, laboratórios e hospitais.
“A verticalização aumenta a competitividade”, diz, citando como exemplo a Prevent Senior, que protagonizou um dos escândalos apontados pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid.
Com foco no público idoso, a operadora ganhou espaço com a venda de planos a preços competitivos (mensalidades a R$ 800). Mas viu sua imagem desmoronar com as denúncias de administração do “kit covid” (remédios sem eficácia comprovada para controle da doença) nos pacientes, sem consentimento das famílias, além de fraudes nos registros de óbitos.
Como tem uma estrutura verticalizada, que controla todo o processo, a CPI entendeu que a transparência neste tipo de operação, verticalizada, é mais difícil. Mas, para o mercado, as fusões dentro do setor são uma tendência sem volta para enfrentar o cenário de aumento de gastos com uma população envelhecida.
“Em uma estrutura verticalizada, o plano controla a ?canetada? do médico” diz Eduardo Nishio, analista da Genial Investimentos. Ele se refere à quantidade de exames que são pedidos por clínicas e especialistas médicos.
Segundo Nishio, a prova de que a verticalização está no foco deste mercado é o recente anúncio de fusão entre dois grandes grupos, GNDI (NotreDame Intermédica) e Hapvida ?esta última também alvo da CPI, por conta da subnotificação de mortes por Covid e prescrição de hidroxicloroquina.
“A fusão tende a ser aceita pelo Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica], porque os dois planos têm pouca sobreposição, concentrada no estado de Minas Gerais”, diz ele.
Fernando Ferrer, analista da Empiricus, concorda. “Embora o Cade tenha se pronunciado em setembro a respeito do caso, considerado complexo, esperamos que a aprovação da união saia ainda no primeiro trimestre de 2022, com alguns ?remédios?, para corrigir a sobreposição”, afirma.
Com isso, será formado o primeiro grande player nacional, unindo as regiões mais fortes de GNDI (Nordeste e Centro-Oeste), com as da Hapvida (Sudeste e Sul). Até hoje, nenhum plano atingiu cobertura nacional. “Eles já operam planos com preços competitivos e vão poder trazer mais usuários do SUS para a sua base”, diz Ferrer.
Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, destaca que o conflito de interesses entre um hospital e um plano de saúde. “Para o plano, o ideal é que não ocorra sinistros. Para o hospital, é preciso ocorrer internações para que ele tenha receita”, diz Crespi, lembrando ainda grandes hospitais e serviços diagnósticos também operam sob o mantra da verticalização. “O grupo Rede D?Or e a Dasa são a prova disso”.