A inflação anualizada do Brasil subiu de 4,76% em outubro para 4,87% em novembro no Brasil, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta terça-feira (10).
Bruno Piacentini, economista e professor da Eu Me Banco, afirma que o acumulado de 4,87% em 12 meses representa um sinal de alerta e deve inlfuenciar na decisão do Copom, que acontece na próxima quarta-feira (10).
“O cenário está fora do controle do teto da meta de inflação, que é de 4,5%. Isso vai exigir que o Banco Central adote medidas mais rigorosas na taxa Selic,” afirmou.
Ele explica que a pressão inflacionária não surge apenas do consumo interno, mas também de fatores estruturais.
“Temos um nível de atividade econômica em crescimento, o que eleva a demanda e, consequentemente, os preços. Além disso, o pacote fiscal do governo não mostrou sinais claros de compromisso com o ajuste das contas públicas, o que afasta investidores e pressiona o câmbio,” acrescentou.
Para Piacentini, a fuga de capital estrangeiro tem sido um elemento crucial nesse cenário, refletindo a perda de confiança no ambiente econômico brasileiro.
O profissional ainda acrescenta que o cenário fiscal e a dinâmica da atividade econômica são elementos cruciais nesse processo.
“O acumulado em 12 meses subiu para 4,87%, enquanto o mercado esperava 4,85%. Isso sinaliza que a meta de inflação de 3% do Conselho Monetário Nacional está cada vez mais distante,” afirmou.
IPCA desafia Copom na decisão da Selic
Os dados complicam a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), que precisa equilibrar a taxa Selic em um cenário de inflação persistente e elementos econômicos instáveis.
Piacentini acredita que o Copom terá que considerar tanto os indicadores inflacionários quanto o cenário fiscal e o câmbio.
“É possível que vejamos a taxa Selic subindo além dos atuais 12,25%, talvez em direção aos 15%, conforme a curva de juros do mercado já está precificando,” apontou.
Para o especialista, a combinação de fatores internos, como a política fiscal e o desemprego, com o cenário externo, como a fuga de capital e a desvalorização cambial, exige medidas monetárias mais restritivas.
Maykon Douglas reforça que o Banco Central deve intensificar sua postura contracionista. “O cenário das commodities, especialmente no caso das carnes, junto com o impacto do câmbio depreciado, tornam necessária a manutenção de taxas de juros elevadas por um período prolongado,” disse o economista.
Impacto dos serviços e commodities
Leonardo Costa, economista do ASA, analisa o impacto qualitativo do IPCA e observa uma alta nos serviços e alimentos.
“O grupo de serviços mostrou um avanço significativo, com a média móvel de três meses do núcleo subindo para 5,7%, o maior patamar desde abril de 2023. Isso torna difícil ancorar as expectativas de inflação,” disse.
Segundo Costa, a aceleração dos serviços é um fator preocupante, já que esse grupo possui maior inércia e tende a impactar a inflação por um período prolongado.
Maykon Douglas, por sua vez, chama atenção para os elementos específicos que influenciaram o IPCA em novembro. Ele destaca que os alimentos, principalmente carnes, tiveram um impacto relevante, com uma alta de 8,02%.
“Isso ocorreu devido à menor oferta de animais para abate e ao aumento das exportações,” afirmou. Além disso, houve um aumento de 0,89% nos transportes, impulsionado pelo custo das passagens aéreas, e um reajuste significativo em itens pessoais, como o aumento do IPI sobre os cigarros.