Taxa de desempredo cai 4%

EUA: Payroll indica resiliência econômica, mas desafios persistem

O relatório de janeiro ainda transmite uma mensagem de resiliência da economia norte-americana

Foto: CanvaPro
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A folha de pagamento de janeiro nos EUA mostrou uma criação de 143 mil vagas, abaixo das expectativas de 170 mil, mas a taxa de desemprego caiu para 4%, diminuindo a resiliência na economia.

Apesar do bom desempenho do mercado de trabalho, a atualização dos avanços e os riscos inflacionários apontam para desafios contínuos, que devem influenciar as decisões futuras do Federal Reserve.

André Valério, economista sênior do Inter, destacou que o dado reforça a ideia de um “pouso suave” para a economia americana. 

Segundo o especialista, o mercado de trabalho continua a mostrar sinais positivos, especialmente no setor de serviços, mas a desaceleração nos setores mais cíclicos, como manufatura e construção, indica uma moderação do ritmo de crescimento. 

O economista acredita que esse quadro de desaceleração gradual pode levar o Fed a manter uma postura cautelosa, o que pode afastar a possibilidade de novos aumentos de juros no curto prazo.

Valério comentou também que, embora a criação de vagas tenha ficado abaixo das expectativas, o aumento nos salários – com um crescimento de 4,1% na comparação anual – ainda está bem distante da meta de inflação de 2% do Fed. 

Esse aspecto, na visão do economista, é um dos principais fatores que ainda pressiona a autoridade monetária a adotar uma postura restritiva. 

“O crescimento robusto nos salários sugere que a inflação segue como uma preocupação central, o que impede uma mudança imediata no ciclo de juros”, explicou Valério.

Riscos inflacionários nos EUA permanecem altos 

Por outro lado, Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, abordou a visão mais crítica sobre o resultado. Segundo Igliori, a criação de vagas abaixo das expectativas não altera, na sua avaliação, o contexto de uma inflação resistente e o quadro de emprego ainda forte. 

O economista vê o dado como um reforço de que a economia americana continua estável, mas os riscos inflacionários permanecem elevados, especialmente com a inflação acima da meta de 2%, como mostrado pelo PCE (índice de preços dos gastos com consumo) de dezembro, que ficou em 2,6%. 

Igliori destaca que, apesar da desaceleração no ritmo de criação de vagas, o Fed continuará vigilante, já que os altos salários e a baixa taxa de desemprego indicam um mercado de trabalho ainda apertado. 

“Embora a criação de vagas tenha desacelerado, o contexto de inflação persistente e o mercado de trabalho aquecido garantem que o ciclo de juros elevados deve continuar”, afirmou Igliori.

O economista-chefe também alertou para a importância de se observar o impacto das políticas comerciais e imigratórias do novo governo de Biden, que ainda estão sendo definidas. 

Para Igliori, tais políticas poderão exercer pressão adicional sobre a inflação e, consequentemente, sobre as decisões do Fed.

Maykon Douglas, economista, ressaltou que, apesar da criação de vagas ter ficado abaixo do esperado, a média móvel de três meses apresentou uma aceleração, de 185 mil para 220 mil postos. 

Além disso, os dados revisados de dezembro mostraram uma criação de 307 mil vagas, um número bem mais expressivo do que o inicialmente reportado, o que adiciona um contexto mais positivo para o mercado de trabalho. 

“Os dados revisados indicam uma recuperação mais forte do que inicialmente se pensava”, afirmou Maykon.

Porém, Maykon também apontou que os setores de lazer e hospitalidade, além de serviços profissionais, registraram perdas, o que demonstra que há setores da economia que ainda enfrentam dificuldades. 

Essa segmentação de desempenho reforça a análise de que a recuperação no mercado de trabalho está longe de ser uniforme e que os efeitos da desaceleração global, além de desafios internos, como a política fiscal e comercial, podem pesar mais sobre alguns segmentos.