Economia

Evergrande: gigante chinesa busca retomar negociações suspensas

Evergrande solicitou a retomada da negociação de ações após paralisação de 17 meses

A Evergrande Group, gigante chinesa que está no centro da crise imobiliária do país asiático, solicitou a retomada da negociação de ações após paralisação de 17 meses, dizendo que cumpriu todos os requisitos de listagem.

A companhia pretende reiniciar as negociações em Hong Kong na próxima segunda-feira (28), encerrando uma suspensão que começou em março do ano passado, de acordo com um documento divulgado nesta sexta (25). A incorporadora imobiliária divulgou no mês passado balanços há muito adiados para 2021 e 2022, ajudando-a a cumprir as exigências para retomar as negociações. As informações são do jornal “Valor Econômico”.

A retomada seria o mais recente passo de recuperação para o grupo, que está passando por uma das maiores revisões de dívida de todos os tempos na China.

A Evergrande disse que cumpriu seis requisitos para retomar as negociações na próxima semana. Isso inclui a publicação de resultados e a condução de uma investigação independente sobre a execução pelos bancos de garantias de penhor para sua unidade Evergrande Property Services. Também abordou questões levantadas pelos seus auditores. A PwCdeixou o cargo de auditor da Evergrande em janeiro e foi substituída pela Prism Hong Kong & Shanghai Ltd.

Como parte do pedido de retomada das negociações, a Evergrande divulgou resultados parciais para o primeiro semestre de 2023. A empresa havia contratado vendas de 33,4 bilhões de yuans (US$ 4,58 bilhões) e ativos totais de 1,74 trilhão de yuans, de acordo com o comunicado. A empresa retomou os trabalhos em 732 projetos e entregou 301 mil unidades em 2022, acrescentou.

A empresa prevê realizar uma reunião do conselho de administração no domingo (27) para aprovar seus resultados provisórios para 2023.

A Evergrande foi negociada pela última vez a HK$ 1,65 (21 centavos de dólar) em março de 2022, uma queda de cerca de 95% em relação ao seu pico em 2017, por um valor de mercado de HK$ 21,8 bilhões.

Entenda crise da Evergrande e preocupações do mercado

Nos últimos dias os mercados foram surpreendidos pela Evergrande, gigante chinesa da construção, que solicitou um pedido de proteção contra falência, o conhecido “Capítulo 15”, em Nova York. Este movimento ligou todos os alertas, devido ao histórico de problemas da companhia.

Em 2021, a Evergrande enfrentou uma crise de liquidez ao não conseguir emitir pagamentos sobre os juros de empréstimos vencidos. Na época, a preocupação era de que a quebra da incorporadora gerasse um efeito cascata, provocando uma crise global – chegando a ser comparada com o caso ‘Lehman Brothers’, um dos bancos responsáveis pela crise econômica de 2008.

No ano de 2021, a Evergrande contabilizou prejuízo de US$ 65,4 bilhões e de US$ 14,5 bilhões em 2022. Apesar das dívidas bilionárias, a empresa conseguiu resistir, mas agora o mercado mundial volta a questionar o que pode acontecer em caso de possível quebra da gigante. Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, as atenções devem se voltar para como o governo chinês irá se posicionar em relação ao setor imobiliário.

“Os dados continuam ruins, a gente tem sinais que são negativos do setor de construção civil na China e que levaram inclusive ao Banco Central chinês a diminuir as suas taxas médias e taxas de baixíssimo prazo. Ainda não mexeram nas taxas de juros principais, mas a gente tem que ficar de olho”, declarou.

De acordo com Ricardo Martins, economista chefe da Planner Corretora, os mais recentes indicadores da atividade econômica chinesa, em desaceleração contínua, demonstram a enorme dificuldade que passarão as empresas do setor imobiliário.

Em conversa com a BP Money, ele comentou sobre como muitos fundos estão lastreados por projetos imobiliários de incorporadoras, algumas já problemáticas como a Evergrande. “Entre credores bancários chineses que retomaram US$ 2 bilhões que deveriam permanecer no controle dos detentores de títulos offshore e a ameaça de credores estrangeiros de liquidar as operações no exterior, a Evergrande decidiu valer-se do Capítulo 15 do Código de Falências dos EUA, para reestruturação da dívida offshore, de US$ 19 bilhões, onde muitos títulos estrangeiros são regidos pela lei dos EUA”, comentou.

O que o Capítulo 15 significa, neste caso, é uma busca por proteção contra esses credores e o reconhecimento dos débitos, e não exatamente um pedido de falência, diz Ricardo. “Suas vendas, que acabaram paralisadas em setembro de 2021, originando a crise de não pagamentos, retomaram a partir do 4T22, trazendo expectativas de que soluções podem ser melhor negociadas, criar um ambiente de maior segurança jurídica com o Capítulo 15 e evitar o pior”, acrescentou.

Há um consenso entre os analistas de que o Capítulo 15 foi apenas uma manobra para ganhar tempo, como conta Dierson Richetti, especialista em investimentos e sócio da GT Capital. “Isso já ocorreu em outro momento, já não é novidade. Então o que significa? A empresa está sem caixa e ela tem que honrar os seus compromissos financeiros. Então, basicamente, ela pediu um um tempo para receber outros pagamentos e remanejar o seu caixa, disse.

Quanto aos impactos diretos que esse movimento pode estimular no mercado, ainda é difícil precisar. “Vamos supor que ela venha à falência ou deixe de pagar os seus parceiros, ou suas dívidas, ela vai impactar muitas empresas na China porque tem muitas empresas que prestam serviços para ela. Os próprios investidores vão deixar de acreditar na empresa e deixar de emprestar dinheiro”, disse Richetti.

O caminho de saída fica na mão de uma boa gestão interna e de estímulos do governo chinês para evitar danos maiores. Resta então aguardar novas movimentações no país asiático.

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