ESTEIO, RS (FOLHAPRESS) – Uma das maiores feiras de agronegócios do país, a gaúcha Expointer retornou este ano ao modo presencial com um quarto de público autorizado no parque de exposições, por medida de segurança sanitária, e uma queda na receita total. Ainda assim, o resultado foi considerado surpreendente pelos organizadores.
A venda de animais, máquinas e produção da agricultura familiar totalizou R$ 1,6 bilhão em negócios. Em valores nominais, sem considerar a inflação, é uma queda de 39,6% em relação aos R$ 2,7 bilhões registrados na última edição presencial, em 2019.
Ainda em meio a pandemia do novo coronavírus, a feira que em 2019 recebeu um total de 416,4 mil pessoas, este ano só pode ser visitada por cerca de 65 mil. Para evitar o contágio, a ocupação máxima diária no parque de exposições Assis Brasil, em Esteio (RS), região metropolitana de Porto Alegre, era de 25 mil pessoas -15 mil delas, visitantes.
O movimento total deste ano equivale a um quarto da capacidade de uma Expointer tradicional, segundo dados da secretaria do parque.
“Realizá-la foi uma decisão ousada, porque não sabíamos o momento que estaríamos vivenciando. Hoje, a exposição é o maior evento teste realizado no país”, afirmou o prefeito Leonardo Pascoal (PP-RS) na tarde de domingo (12), último dia da feira.
No ano passado, a Expointer foi realizada de modo virtual devido à pandemia, com apenas produtos da agricultura familiar sendo vendidos em formato drive-thru. Os expositores entregavam às compras para os visitantes que podiam circular apenas em carros. O movimento total, porém, foi de dois mil veículos.
O único setor com aumento nas vendas foi o automobilístico, com R$ 200 milhões em vendas, 43,6% a mais que em 2019. O vice-presidente do Sincodiv/Fenabrave-RS (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos), Ambrósio Pesce, diz que, entre os fatores, está o fato de que muitos produtores do interior esperam para comprar carros e motos na Expointer.
“Nós não temos hoje no mercado o turismo, por exemplo, que era um concorrente do setor automotivo. Com o turismo reprimido, começando agora a liberar, o consumidor fez uma poupança forçada. Hoje, ele está mais ávido às ofertas e preparado economicamente para isso”, diz ele.
No Pavilhão da Agricultura Familiar, os estandes passaram de 316 em 2019, para 52 no ano passado, e 210 este ano. Pela estimativa do governo do estado, divulgada na tarde de domingo, o pavilhão teve receita de R$ 2,8 milhões este ano, uma redução de 37,7% com relação à renda de 2019.
Rosangele Scholante, 63, uma das expositoras do pavilhão, com produtos feitos de lã, participa do evento há mais de 20 anos e veio de Bagé, a 390 quilômetros de Esteio, cidade da Expointer. No ano passado, ela deixou o filho cuidando das vendas porque foi diagnosticada com o novo coronavírus.
“Esse ano está valendo muito a pena. Vou sair daqui realizada”, diz ela que comercializa boa parte da sua produção nas feiras.
O estande de Cristian Weber, 34, que veio de Não Me Toque, estava com fila de clientes no último sábado, dia de maior movimento da feira, quando os ingressos chegaram a esgotar. Em 2019, o salame produzido pela família dele foi escolhido o melhor da Expointer.
“Compensou [a vinda], estou com os expositores quase vazios. Acredito que antes do final da feira eu consiga comercializar todos os nossos produtos”, afirmou ele.
Sem leilões de cavalos de raça, a parte de animais teve a maior queda, 89,8%, passando de uma receita de R$ 8,4 milhões em 2019 para R$ 854 mil este ano.
Segundo Leonardo Lamachia, presidente da Febrac (Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça), as restrições impostas pela pandemia prejudicaram a sistemática dos leilões presenciais. O tradicional prêmio do Freio de Ouro também ficou fora dos dias da feira este ano.
“Esse número é mais ou menos o tradicional da venda de animais sem os leilões de cavalos, com gado leiteiro, gado de corte, ovinos, caprinos e alguma coisa de aves. É muito difícil e será difícil para o futuro nós mensurarmos o que os leilões atrelados a Expointer, no ambiente virtual, estão gerando e vão gerar”, avalia ele.
Apesar de uma queda de 44% nas vendas com relação ao montante de 2019, o setor de máquinas, que teve 60 expositores a menos este ano, conseguiu vender R$ 1,4 bilhão em 2021 e segue sendo o responsável pela maior fatia de negócios.
“Foi uma surpresa positiva, nem nós esperávamos uma venda tão boa. Nosso setor está comprador, o preço das commodities está bom, tivemos grande safras e tecnologia embarcada nas nossas máquinas, com o agricultor vendo que está produzindo mais a cada ano no mesmo pedaço de chão”, avalia Cláudio Bier, presidente do Simers (Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas no Rio Grande do Sul).
“O público que veio, em função das restrições, foi um público focado, que vem para fazer negócio. Também o produtor estava sequioso por uma feira”.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) compareceu à feira no sábado (11).
Além da restrição de público, entre as medidas sanitárias, a feira teve aferição de temperatura do público –com termômetros e por câmeras– lavatórios com álcool em gel e pias disponíveis em vários pontos e exigência do uso de máscara, o que foi descumprido por parte do público que circulava no espaço neste fim de semana.
Segundo o governo gaúcho, antes do início da feira, foram realizados 628 testes em trabalhadores e expositores que não tinham realizado exame antes de chegar ao parque de exposições -13 pessoas que tiveram teste positivo para o Sars-CoV-2 não puderam entrar no local. Na retestagem, de 198 pessoas, cinco tiveram resultado positivo e foram isoladas.
“Mesmo em meio a pandemia, com todas as dificuldades que passamos no decorrer desse tempo, realizamos a 43ª edição online. Esse ano ela tem esse símbolo do recomeço, da retomada importante”, afirmou o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, no balanço final do evento.