Os fabricantes russos de fertilizantes estão buscando alternativas para manter a exportação para países como o Brasil, apesar da recomendação do governo de Vladimir Putin para que o trabalho seja suspenso devido às sanções ocidentais em retaliação à guerra na Ucrânia.
Na sexta (4), o Ministério da Indústria e Comércio em Moscou divulgou a recomendação, citando que isso colocaria em risco “milhões de pessoas” e a segurança alimentar do mundo.
O objetivo era o de pressionar as grandes transportadoras marítimas, como a Maersk, que pararam de operar em portos russos por temer os efeitos vinculantes das sanções determinadas por Estados Unidos, União Europeia, Japão e outros países.
O movimento acendeu um sinal vermelho em Brasília. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem sustentado que o Brasil deve se manter neutro no conflito na Ucrânia em nome, entre outras coisas, da manutenção do fluxo de fertilizantes russos para o país –23% dos insumos consumidos vêm da Rússia e 3%, da também sob sanções Belarus.
O Ministério da Agricultura informou que não havia ainda avaliação de impacto da medida.
Segundo a Folha de S.Paulo ouviu em Moscou, empresários do setor entenderam que o veto à exportação é apenas uma recomendação neste momento, então se houve alternativas de uso de navios de países dispostos a enfrentar o risco de sofrerem sanções, elas serão usadas.
China e Índia, que se recusam a condenar a ação russa na Ucrânia, estão no centro das conversas. Já a operação em portos, uma vez que os navios estejam disponíveis, tendem à normalidade, ou quase.
A Acron, líder do mercado russo de fertilizantes, que vende 32% de sua produção para o Brasil e outros países na América Latina, opera dois portos. Um deles na Rússia e dois na Estônia, país da Otan (aliança militar ocidental) que se opõe ao Kremlin, mas até aqui não interrompeu esse negócio.
Como há cerca de três meses de estoques de fertilizantes, nitrogenados e fosfatados, no Brasil, a expectativa no meio diplomático é de que a situação se resolva antes de chegar a um ponto crítico. Mas a pressão política sobre Bolsonaro segue, principalmente se houver aumento de preços devido à escassez dos insumos, que já vinham rareando devido às quebras de cadeias logísticas na pandemia.
O presidente empenhou sua imagem nisso, numa viagem para visitar Putin em Moscou uma semana antes da guerra, e saiu sem nenhum acordo assinado sobre o tema. Como votou pela resolução da ONU que condena a invasão, mas fez críticas às sanções e não adotou nenhuma, o Brasil segue fora da lista de países considerados hostis pelo Kremlin.