
O Fed (Federal Reserve) anunciou nesta quarta-feira (29) um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas de juros dos EUA, que passam a variar entre 3,75% e 4% ao ano, conforme decisão do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto).
O movimento representa o segundo corte consecutivo promovido pela autoridade monetária, em uma decisão amplamente antecipada pelo mercado. Em setembro, o Fed já havia reduzido os juros em 0,25 ponto percentual — o primeiro recuo desde dezembro.
A autoridade monetária norte-americana destacou que segue atenta aos dois pilares do seu duplo mandato — o controle da inflação e a promoção do pleno emprego —, reconhecendo um cenário econômico incerto e um aumento dos riscos de desaceleração no mercado de trabalho.
Segundo o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), o corte de 0,25 ponto percentual nos juros tem como objetivo sustentar o avanço em direção às metas de inflação de 2% e de máximo emprego, levando em consideração o atual balanço de riscos da economia.
A decisão foi tomada em um contexto atípico, marcado pelo “apagão de dados” provocado pelo shutdown do governo dos Estados Unidos, em vigor desde o início de outubro. Com a paralisação, indicadores essenciais para as avaliações do Fed, como o payroll — que mede a criação de empregos no país —, deixaram de ser divulgados, dificultando a leitura precisa sobre a situação do mercado de trabalho.
Divergência dentro do Fed e expectativa para novas reduções de juros
A decisão do Fed ocorreu conforme o esperado pelo mercado. No entanto, o comunicado revelou sinais de divisão interna sobre o ritmo ideal de flexibilização monetária.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, “a decisão do Federal Reserve veio em linha com o esperado, com um corte de 0,25 ponto percentual, levando a taxa de juros americana para 4% ao ano. O mercado ainda projeta mais uma redução na próxima reunião, em dezembro, mas isso dependerá do tom adotado por Jerome Powell na coletiva e dos dados que vierem até lá.”
O especialista destacou ainda duas surpresas no resultado da reunião. Um dos dirigentes, Stephen Mayer, defendeu um corte mais agressivo, de 0,50 ponto percentual, enquanto outro membro votou pela manutenção da taxa em 4,25%.
Para Cruz, essa divergência deve pautar tanto a ata quanto a coletiva de imprensa de Jerome Powell, reforçando as incertezas sobre os próximos passos da política monetária americana.
Dados limitados e inflação controlada reforçam cautela do Fed
Com a suspensão de parte das divulgações oficiais, o Federal Reserve passa a lidar com uma escassez de informações que tradicionalmente orientam suas decisões. Esse cenário, segundo analistas, pode ser usado pela instituição como forma de recalibrar as expectativas do mercado e adotar uma postura mais prudente até que o fluxo de dados volte à normalidade.
Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, a falta de indicadores recentes abre espaço para o Fed ajustar o discurso e preparar o terreno para eventuais mudanças no ritmo de cortes de juros. A incerteza, portanto, ganha peso no processo de tomada de decisão da autoridade monetária.
Apesar do shutdown do governo americano, o Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS) ainda conseguiu divulgar o CPI (Índice de Preços ao Consumidor) referente a setembro. O indicador mostrou uma alta de 0,3%, ligeiramente abaixo das projeções de mercado, mas no acumulado de 12 meses voltou ao nível de 3%, o maior patamar desde janeiro.
Esse comportamento da inflação reforça a percepção de que o processo de desinflação ainda é gradual, exigindo atenção redobrada por parte do Fed antes de avançar com medidas mais agressivas.
Segundo a ferramenta FedWatch, do CME Group, o mercado aposta que o Comitê repetirá o corte de 0,25 ponto percentual na reunião de dezembro, mantendo o ritmo de flexibilização monetária observado neste mês.