"FED deixa porta aberta para cortes, mas sem compromisso", destaca economista
Foto: divulgação Fed

O Federal Reserve (Fed) anunciou corte de 25 pontos-base na taxa de juros dos EUA, movimento que já aparecia no radar dos investidores. Para Bruno Perri, economista-chefe, estrategista de investimentos e sócio-fundador da Forum Investimentos, a reunião não trouxe mudança de rota:

“A decisão veio em linha com o esperado, na minha visão. Não tivemos nenhuma surpresa. O corte de 25 pontos-base era amplamente antecipado pelo mercado.”

Segundo Perri, a indicação principal está na forma como o Fed organiza a comunicação sobre os próximos passos da política monetária:

“O Fed deixou a porta aberta para cortes no curto prazo, mas sem compromisso. Ou seja, reforça a postura data dependent.”

Fed, inflação e mercado de trabalho nos EUA

A avaliação do economista é que a autoridade monetária reconhece sinais de perda de força na economia, mas mantém atenção à inflação:

“O Fed reconheceu a moderação da atividade e a desaceleração do mercado de trabalho, mas citou incerteza ainda elevada e inflação acima do ideal.”

Na leitura de Perri, a ata reforça essa combinação de fatores:

“A ata veio com um tom bem dentro do esperado. Teve dois diretores que queriam manter os juros no patamar atual. Eles sinalizam que o balanço de riscos para a inflação melhorou, mas reforçam também que houve aumento da perda de fôlego do mercado de trabalho e que há uma preocupação.”

Ele destaca ainda o foco do comitê na interação entre inflação e emprego:

“Eles colocaram esse corte com um olhar no mercado de trabalho mais até do que na própria inflação de curto prazo, que ainda não está no centro da meta.”

Próximos cortes de juros nos EUA: pausa ou continuidade

Para os próximos encontros, Perri vê espaço para continuidade do ciclo de corte de juros, mas com possibilidade de pausa:

“Acredito que a queda de juros deve continuar. Mas é possível haver uma pausa na próxima reunião, já que não é uma decisão de consenso entre todos e dois diretores votaram pela manutenção da taxa básica de juros.”

A sinalização do Fed é de acompanhamento constante dos indicadores:

“Daqui para frente, a porta está aberta para novos cortes, mas muito dependente, primeiro, da inflação, obviamente, mas também da dinâmica do mercado de trabalho.”

Perri cita o peso dos próximos dados, como o payroll:

“Se chegar em janeiro, o mercado de trabalho tiver piorado muito, o payroll semana que vem vier horrível, é possível que eles já cortem novamente no começo do ano.”

Ele lembra ainda que o Fed evita um compromisso antecipado, diferente do que o mercado viu em outros bancos centrais:

“Eles não assumem um compromisso no sentido de um forward guidance, como, por exemplo, o Banco Central andou fazendo por aqui, de já sinalizar qual é a próxima decisão.”

Ritmo dos cortes, inflação e tarifas de importação

Na avaliação do economista, a tendência é de manter o mesmo ritmo de corte de juros:

“Acredito que os próximos cortes devem seguir no mesmo ritmo, de 25 pontos-base.”

Os fatores que sustentam a decisão incluem a leitura da inflação nos EUA e sinal de perda de força da economia:

“Sem dúvidas, o Fed fez esse corte após verificar melhora na inflação e por conta da desaceleração da economia, principalmente com o enfraquecimento do mercado de trabalho.”

Ele também menciona o impacto da política comercial:

“O alívio esperado com a reversão parcial de tarifas de importação sobre alimentos, principalmente, também tem importância.”

Impacto da decisão do Fed em dólar, juros e bolsas

O movimento do Fed gerou resposta moderada nos mercados globais, segundo Perri:

“O impacto da decisão do Fed foi modesto nas bolsas, pois a decisão veio bastante em linha.”

A sinalização de “porta aberta” para novos cortes trouxe algum apoio a ativos de risco:

“A ‘porta aberta’ para as próximas decisões deu leve impulso aos ativos de risco.”

Ele resume a reação dos preços:

“O USD continua em alta, mas se distanciou das máximas, e os juros americanos cedem um pouco. O Ibovespa mantém alta moderada.”