O Fed, banco central dos EUA, divulgou nesta quarta-feira (20) a sua decisão de manter a taxa de juros do país no intervalo entre 5,25% e 5,50%. A estabilidade já era esperada por analistas, que entendem que a instituição enfrenta um dilema entre gerar descontrole nos preços e comprometer a economia.
“Se o Fed afrouxar a política monetária prematuramente, pode gerar um descontrole de preços, mas se aguardar muito para cortar os juros, poderá comprometer a atividade econômica”, explica o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung.
Sung pontua que essa é a segunda fase do processo desinflacionário, no qual o recuo dos preços é mais lento e mais dependente do ciclo econômico. Consequentemente, é criado um alerta para acompanhar a divulgação dos próximos indicadores, especialmente o de inflação de serviços do país.
Desta forma, é natural que os países emergentes sejam afetados, pois o dinheiro acaba sendo retido nos EUA.
“É confortável para os grandes fundos manter o dinheiro com uma rentabilidade boa, na economia mais segura do mundo. O mercado financeiro gosta de previsibilidade”, explicou Felipe Vaconselhos, sócio da Equus Capital.
FOMC, do Fed, altera projeções de crescimento
Com o Fed divulgando a manutenção das taxas, não houve grandes novidades no documento. Contudo, as alterações das projeções com o FOMC (Comitê de Mercado Aberto), do banco central dos EUA, se destacaram.
As projeções de crescimento para 2024 foram de 1,4% para 2,1%, ao passo que o PCE foi elevado de 2,4% para 2,6%. Por outro lado, a expectativa para a taxa de desemprego foi reduzida para 4,0%, anteriormente era de 4,0%.
Sávio Barbosa, Economista-chefe da Kínitro Capital, explica que mesmo com as alterações mais agressivas, as autoridades monetárias dos EUA mantêm o discurso de três cortes de juros em 2024.
“Mesmo com essas mudanças nas projeções, que podem ser consideradas mais hawkish, ou seja, que poderiam gerar uma perspectiva mais altista para a taxa de juros, a taxa de juros projetada no SEP para 2024 ficou em 4,6% a.a. Os membros do FOMC seguiram sinalizando 3 cortes de juros este ano”, disse.
O economista acrescenta que ao longo dos próximos meses os dados de inflação devem voltar a mostrar moderação.
“Essa perspectiva está baseada na leitura que os bens industriais devem seguir em deflação, os indicadores antecedentes do mercado de trabalho seguem apontando para moderação da inflação de salários e a inflação do setor de moradias deve desacelerar”, pontuou.
Como decisão afetou mercado de ativos
Após a decisão do banco central norte-americano, o mercado futuro de Fed Funds aumentou novamente a chance de um corte até junho, avançando de 82% para 65% estabelecidos na véspera.
Por outro lado, Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, sinalizou que as principais bolsas estadunidenses reagiram positivamente.
Em linha com a afirmativa, Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo, entende que, no contexto atual, é possível esperar um forte recuo na volatilidade dos títulos de renda fixa norte-americanos.
“Nosso cenário segue com 5 cortes começando em junho e levando os Fed Funds a 4,25% no final de 2024. Também esperamos uma queda acentuada da volatilidade das Treasuries, com a taxa dos títulos de 10 anos oscilando entre 4,00% e 4,25% nas próximas semanas”, declarou.
Nesse sentido, a retomada no movimento de valorização de ativos brasileiros se aproxima. Mathias espera que o Ibovespa sinta uma recuperação e estabeleça novos recordes, podendo chegar aos 170 mil pontos no final de 2024.