Banco Central

Galípolo tem aprovação no Senado, mas laço com Lula ainda preocupa

Apesar da posição favorável de Galípolo, as questões acerca da sua resistência quanto a pressões políticas será uma das principais incertezas

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Nomeado para ocupar a presidência do BC (Banco Central), que será deixada por Roberto Campos Neto ao fim deste ano, após cinco anos de mandato, Gabriel Galípolo tem se revelado como uma figura que agrada ambos os lados da conjuntura nacional, seja o governo, ou o mercado.

O atual diretor de política monetária, indicado pelo Presidente da República para a sucessão no BC, não só conta com a aprovação do mercado, naturalmente atento e cauteloso, como também coleciona elogios dos senadores da oposição. Postura que foi notável durante a sabatina da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, na última terça-feira (8).

Apesar da posição favorável de Galípolo, as questões sobre sua resistência às pressões políticas para reduzir os juros serão uma das principais incertezas no radar econômico quando ele assumir o cargo de maior autoridade da autarquia monetária.

A questão surge em meio ao “pé de guerra” entre o governo e a atual postura do BC, liderada por Roberto Campos Neto: enquanto o presidente Lula tem defendido veemente que a postura do BC deveria ser a favor da redução dos juros, o BC avalia que a postura da autoridade surge como resposta aos gastos excessivos das verbas públicas.

Ao BP Money, Jefferson Laatus, chefe-estrategista do grupo Laatus afirmou: “O Galípolo tem capacidade para estar ali, sua indicação é positiva para o mercado, a única preocupação que pesa é que ele é muito próximo ao presidente Lula, e se pressionado pode ceder”.

Durante a sabatina, Galípolo afirmou que sempre ouviu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a garantia da liberdade na tomada de decisões da instituição.

“Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro, que cada ação e decisão deve unicamente ao interesse do bem-estar de cada brasileiro”, disse.

É nesse caminho que Felipe Vasconcellos, Sócio da Equss Capital, mantém sua perspectiva. Ele avalia que Galípolo deve ter uma postura técnica e independente, especialmente ao apoiar aumentos na taxa Selic para controlar a inflação, mesmo diante de pressões políticas.

“Sua experiência em gerenciar crises financeiras e dialogar com diversos atores econômicos fortalece a confiança do mercado em sua liderança”, disse Vasconcellos.

“A expectativa é positiva, pois ele demonstra a capacidade de adaptar políticas monetárias conforme as necessidades econômicas, além de valorizar a transparência nas comunicações do Bacen. Contudo, sua gestão enfrentará desafios, como manter a eficiência financeira e o relacionamento com o governo, o que exigirá habilidade para garantir o crescimento sustentável e a credibilidade institucional do Banco Central durante seu mandato”, completou.

Mercado segue atento ao laço do governo com Galípolo

Segundo Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, o mercado deve continuar observando de perto a relação de Gabriel Galípolo com o governo federal e sua postura em relação à PEC da autonomia financeira. 

O fato de Galípolo ter sido conselheiro da campanha de Lula em 2021 e ter integrado a equipe de transição reforça a atenção que sua nomeação gera no cenário econômico.

“Contudo, acredito que a aprovação não deve ter nenhuma surpresa, e também não assustará o mercado, já que ultimamente os votos de Galípolo estiveram alinhados ao restante dos integrantes do Copom para encerrar o ciclo de cortes e iniciar a alta dos juros, o que o tornou uma pessoa vista por uma condução mais técnica da política monetária do país, sem ceder a pressões políticas”, disse.

Laatus reforça a preocupação devido à sua proximidade com o presidente Lula, o que poderia influenciar suas decisões caso seja pressionado. 

A principal dúvida gira em torno de sua postura em relação à inflação. “Sobre isso só vamos ter certeza em janeiro, na primeira reunião que terá de fato com ele presidindo”, disse.

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