SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A democratização do acesso à internet deve ser prioridade do país, na opinião dos debatedores do seminário sobre 5G promovido pelo jornal Folha de S.Paulo na última quarta-feira (24).
O motivo, dizem os especialistas, é que os benefícios dessa tecnologia ainda têm um longo caminho para chegar a toda a população, o que vai exigir desde investimento em infraestrutura até comercialização de novos aparelhos.
Neste mês, o governo federal realizou um leilão para decidir quais empresas podem operar a rede. Claro, Vivo e Tim levaram lotes das principais faixas da frequência 5G.
O edital também previu contrapartidas para essas empresas. Entre elas, levar o 4G para locais sem cobertura, montar infraestrutura para conectar estradas e levar internet a escolas públicas.
A nova geração de rede móvel deve chegar às capitais e ao Distrito Federal até julho de 2022, segundo cronograma da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações).
No entanto, a potencialidade das novas conexões não será aproveitada pela população a curto prazo, diz Flávia Lefèvre, advogada especialista em telecomunicações e ex-conselheira do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil).
Apesar de o edital ter estabelecido investimentos para aumentar a cobertura 4G, as contrapartidas não atendem às demandas de conexão e democratização digital, apenas de infraestrutura, diz a advogada. Ela afirma que investimentos em wi-fi em pontos públicos e diretrizes de compartilhamento de estruturas poderiam beneficiar a população de forma concreta.
“Não é tão importante que o consumidor tenha acesso ao 5G amanhã, o que o ele precisa é de 4G ilimitado e com qualidade. Isso é essencial para o exercício da cidadania.”
De acordo com a pesquisa TIC Domicílios, realizada pelo NIC.br (Núcleo de Coordenação de Iniciativas e Serviços de Internet no Brasil), 81% da população brasileira têm acesso à internet. Nas classes A e B, o percentual de usuários é de cerca de 90%; na classe C, 85%; e nas classes D e E, 67%.
Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis (sindicato que reúne operadoras de telefonia) vê o leilão do 5G como uma importante ferramenta de inclusão digital. “Cumprindo com as obrigações, podemos eliminar desertos digitais que ainda existem no país”, afirma.
Como a rede 5G tem um alcance menor do que a 4G, as operadoras precisarão de mais antenas, o que pode prejudicar a chegada do sinal a áreas periféricas.
Estudo feito pela Teleco, consultoria em telecomunicações, mostra que bairros com menor renda têm acesso de pior qualidade. Isso porque o número de antenas por habitante é menor.
Na capital paulista, por exemplo, bairros de periferia, como Grajaú (zona sul) e Cidade Tiradentes (zona leste), têm até duas antenas por quilômetro quadrado. Já regiões nobres, como Pinheiros (zona oeste) e Vila Mariana (zona sul), contam com mais de dez antenas por quilômetro quadrado.
Celina Bottino, diretora do Instituto Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, vê no investimento em conectividade nas escolas um ponto importante para a democratização do acesso às redes digitais. Ela afirma que esses locais têm potencial multiplicador, mas ainda carecem de internet qualidade.
Questionado sobre o alto custo previsto para aparelhos de 5G e para a oferta de pacotes de dados, Ferrari, da Conexis, diz que não cabe às operadoras regular o valor dos equipamentos. “Essa tecnologia vai começar com um preço maior, mas, à medida que ganhar escala, o preço vai cair. É natural que isso aconteça”, afirma o especialista.
O webinário foi mediado pelo jornalista Julio Wiziack e teve patrocínio da Embratel.