Após 15 semanas de queda, o preço da gasolina acumula três altas. De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o valor já passa de R$ 5 em nove estados e no Distrito Federal. Os seguidos aumentos surgiram na reta final das eleições. Porém, de acordo com Cesar Frade, Mestre em Economia e sócio da Quantzed, a alta já era esperada.
“A medida que foi feita lá atrás, de redução de ICMS, fez toda a baixa no momento em que o petróleo também estava caindo de preço. Ele chegou a cair 20%. Agora, o petróleo voltou a subir. Atualmente está próximo aos US$ 100, então essa alta da gasolina era esperada”, disse Frade ao BP Money.
No final do segundo semestre, o governo federal realizou várias medidas para tentar reduzir valores de gasolina e diesel, a fim de minimizar os efeitos do alto custo, o que poderia impactar negativamente na campanha do atual presidente. Porém, com a derrota nas urnas para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fica o questionamento quanto aos esforços para seguir reduzindo os valores.
“Há uma probabilidade de o presidente se importar menos com esses aumentos do que na época da campanha, mas é difícil dizer. Ele estava buscando controlar a inflação, que inclusive serviu como tema da campanha. Agora, é uma icógnita se o ministro irá aparecer todos os dias em frente a uma bomba de combustível para lembrar que é a menor inflação do mundo. Esse encantamento tende a terminar”, opinou Frade.
O Projeto de Lei Complementar nº 18 limitou em 17% ou 18% a cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis nos estados. A medida, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em 23 de junho, abrange gasolina, querosene de aviação, óleo diesel, álcool anidro e álcool hidratado.
“Historicamente existe uma defasagem muito mais no campo negativo dos preços, mas não é em função ainda da volta do ICMS. O PLP-18 vale até o final do ano, então pode ser que volte, não necessariamente, na mesma magnitude, mas os patamares de impostos de ICMS podem retornar a partir de janeiro”, salientou Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest.
De acordo com o CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), a defasagem do diesel atingiu 27,78% e a da gasolina chegou a 18,38% até sexta-feira passada (28). Ainda segundo o órgão, a estatal teria de reajustar seus dois produtos em R$ 1,88 e R$ 0,74 por litro, respectivamente, para alinhar seus preços com o mercado internacional.
Refinaria de Mataripe pressiona preço da gasolina na Petrobras?
Enquanto a Petrobras (PETR4) buscava segurar reajustes por conta da pressão do governo, a Refinaria de Mataripe vinha optando por repassar a alta das cotações do petróleo para os preços da gasolina e do diesel.
“A refinaria tem uma participação pequena, mas relevante no mercado, e isso pressiona de alguma maneira. Impacta sim na Petrobras. Como ela está na política correta de precificação dos seus ativos, pressiona a Petrobras em função de governança também, em relação ao tratamento do acionista no mercado”, analisou Marques.
A refinaria elevou o preço da gasolina em 2%. O do diesel-S10 foi aumentado em 8,9%. Anteriormente, a empresa já havia aumentado os preços em 9,7% e 11,3%, respectivamente.
“Esses aumentos influenciam na concorrência e no preço, além da governança. Com esse aumento de preço e com aumento de receita, e com melhor performance, ela vai conseguir cada vez mais atacar o mercado da Petrobras, e com isso aumentar sua participação como um todo”, completou o economista e CEO da Philos Invest.
Lula pretende mudar política de preço da Petrobras
Ao longo da sua campanha, Lula afirmou que irá trabalhar para mudar a política de preços da Petrobras, que atualmente é atrelada à cotação internacional do óleo. O petista afirmou que pensa em colocar no lugar uma política “que seja em função dos custos nacionais” que incidem sobre a estatal.
“A PPI [Política de Paridade internacional] é para agradar os acionistas em detrimento de 215 milhões de brasileiros”, afirmou na época. Para ele, Bolsonaro “não teve coragem” de alterar essa política, pois “está comprometido com a privatização [da Petrobras] e com essas 392 empresas”.
Para Frade, essa nova política que o petista pretende implementar não será positiva no preço da gasolina e do diesel. “Ela afeta negativamente o País como um todo no ponto de vista do investidor internacional. Era extremamente interessante que continuassemos da mesma forma, mas isso não deve ocorrer, pois o PT tem uma visão totalmente diferente da do ministro Paulo Guedes, que era uma visão bastante liberal”, concluiu.