RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Parte da onda de frio intenso que chegou ao Brasil, a geada voltou a ameaçar plantações de café nesta sexta-feira (30) na região Sudeste. A situação preocupa produtores de Minas Gerais e São Paulo porque o fenômeno já havia abalado lavouras neste mês.
O impacto nas plantações tende a se refletir nos preços cobrados de consumidores nas gôndolas dos supermercados. É que as cotações de café passaram a subir devido aos recentes prejuízos à produção.
No mês, a saca da variedade arábica acumulou alta de quase 24% até quinta-feira (29), conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Ana Carolina Alves Gomes, analista de agronegócios do Sistema Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), confirma que produtores mineiros voltaram a relatar preocupação com a geada nesta sexta. Segundo ela, a percepção é de que a intensidade do fenômeno variou entre as plantações, e, por isso, o impacto ainda é incerto.
“O fato é que a geada atingiu novamente o Sul e o Cerrado Mineiro. Caiu praticamente nas mesmas áreas”, afirma. “O tamanho dos prejuízos que o frio já causou vai depender do manejo a ser realizado daqui para frente”, completa.
Esse manejo pode variar desde a poda de plantas danificadas até algo mais drástico, como arrancar os pés de café queimados pela geada.
No estado de São Paulo, produtores também seguem em alerta. É o caso de Luís Carlos Josepetti Bassetto, que estima ter perdido 70% do café plantado em janeiro em uma área que soma cinco hectares. A propriedade está localizada no município de São Manuel, que fica a cerca de 260 quilômetros da capital paulista.
“Dificilmente a gente consegue aproveitar a muda após a geada. Temos de esperar para ver qual será a reação da planta, mas geralmente a solução é arrancá-la”, diz Bassetto, que é presidente da Coopercuesta.
Segundo ele, a maior parte dos estragos nos cafezais da região foi provocada pelas geadas na semana passada e na última quinta-feira (29). Na visão do produtor, o fenômeno desta sexta pode agravar o quadro.
“Às vezes, o impacto da geada não é visual, você não percebe logo. Pode afetar as seivas da planta, agravar as condições”, pontua.
“Para mim, [a geada] vai gerar um atraso de pelo menos um ano. Plantei café neste ano e imaginava ter a primeira safrinha em 2023. Agora, vai ser só em 2024, se tudo der certo. O prejuízo não é só nosso. Tem o impacto nas gôndolas dos supermercados ainda”, acrescenta.
Em um sobrevoo pela região cafeeira de Varginha, no Sul de Minas, é possível ver manchas amarronzadas em grande parte das plantações, sinais de como as geadas do último dia 20 queimaram os cafezais e indicam perdas para pelo menos as próximas duas safras.
“Foi pior do que eu imaginava. Difícil ver uma lavoura que não sofreu nada”, disse o engenheiro agrônomo Adriano Rabelo de Rezende, coordenador técnico da cooperativa Minasul, depois de sobrevoar, pela primeira vez após as geadas, fazendas nos municípios de Varginha, Elói Mendes, Paraguaçu, Alfenas, Machado, Boa Esperança, Nepomuceno e Carmo da Cachoeira.
Após avaliação visual das manchas escuras nos cafezais, o agrônomo estimou na quinta-feira que entre 20% e 30% das lavouras já haviam sido afetadas pelo frio intenso. Ele destacou que o fenômeno climático, que vem sendo comparado com as históricas geadas de 1994, atingiu com maior intensidade as áreas mais baixas, onde o ar congelante se concentra nas madrugadas.
A Minasul atua em importantes polos produtores do Sul de Minas Gerais, região que respondeu por cerca de 40% da produção de café arábica do Brasil em 2020. A área da cooperativa foi mais uma entre várias brasileiras -como o Cerrado Mineiro- golpeada pelo fenômeno climático da semana passada.
Para o produtor Flávio Figueiredo de Rezende, com propriedades em Varginha e Carmo da Cachoeira, atingidas em intensidades variando de 90% a 20%, a safra de 2022 seria recorde, mas agora se for igual a de 2021 “está de bom tamanho”.
“É muito triste, mas faz parte da nossa luta”, disse ao mexer nos ramos, ainda com frutos da safra atual, de uma lavoura de 15 anos totalmente queimada na fazenda Coqueiro –a geada, em geral, não resulta em problemas para os grãos prontos para colheita, e sim para safras futuras.
O produtor relatou ainda que o setor foi “surpreendido” pela intensidade do frio da semana passada, que, segundo ele, só pode ser comparado à geada de 1994, o último grande evento climático congelante para os cafezais do Brasil.
O agricultor disse ainda acreditar que, por mais intensa que possa ter sido a geada desta sexta-feira, dificilmente poderá trazer perdas relevantes adicionais à região de Varginha, já castigada pelo evento anterior.