A decisão de acabar com o juros rotativo no cartão de crédito é uma posição consolidada dentro do governo. Porém, a área econômica avalia que apenas essa medida não é suficiente para resolver o juro alto da modalidade. Os juros desse tipo de crédito chegam a 440% ao ano, a maior taxa do mercado financeiro.
Hoje, quando um cliente passa 30 dias no rotativo, os bancos são obrigados a negociar a dívida. Os juros nessa modalidade giram em torno de 15% ao mês, de acordo com integrantes do governo, o que é praticamente o mesmo do rotativo. Por isso, será preciso endereçar uma saída também para esse parcelado.
Para o governo, como o Congresso já tomou a frente dessa discussão, a saída será dentro de um projeto de lei em tramitação na Câmara. Esse projeto trata do Desenrola e também irá tratar do cartão de crédito.
De acordo com o jornal “O Globo”, o governo irá apoiar a iniciativa, dentro do projeto, que acaba com o rotativo e dará um prazo de 90 dias para que o setor adote uma autorregulamentação que também reduza as taxas da dívida decorrente dessa modalidade.
Uma eventual proposta do setor será analisada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), formado pelo Banco Central e pelos ministérios da Fazenda e do Planejamento.
Se o CMN entender que a proposta do setor não é suficiente, os juros ficarão limitados às mesmas taxas do cheque especial — próxima de 9% ao mês.
Essa taxa é considerada razoável pelo governo, que não vê chance de retração na oferta de cartão de crédito.
A decisão de acabar com o rotativo foi amadurecendo nas discussões com bancos desde de janeiro, em um grupo do qual fazem parte o Ministério da Fazenda, o BC e os bancos. Integrantes do governo afirmam que as instituições financeiras insistiam em medidas com o fim do parcelado sem juros, o que não era aceito pelo Executivo.
Bradesco (BDSC4): CEO diz que Desenrola terá impacto pequeno
Apesar de bem-vindo, o Desenrola não deve ter um grande impacto no balanço do Bradesco (BDSC4). “Não vai mexer o ponteiro, porque os valores das dívidas são muito baixos”, disse o CEO do banco Octavio de Lazari Jr., durante apresentação dos resultados do segundo trimestre.
O executivo ressalta que o programa do governo é positivo, ajuda os clientes, e disse que o Bradesco já fez 85 mil renegociações e desnegativou 580 mil CPFs.
Questionado sobre as lições que o banco aprendeu com o ciclo anterior de afrouxamento monetário, para não repetir os mesmos erros agora que uma nova fase de queda da Selic se inicia, Lazari afirmou que o cenário é diferente, com projeções mais animadoras para a economia, e que na ocasião anterior os desdobramentos da pandemia afetaram a capacidade de pagamentos dos clientes.
“Também tivemos melhoria em ferramentas, modelos de crédito, até uso de inteligência artificial generativa, tudo isso contribui para um melhor processo de avaliação e concessão. Mas temos que observar o cenário”.
O CEO do Bradesco afirmou ainda que as discussões sobre mudanças que levem à queda nos juros do rotativo do cartão de crédito ainda estão em andamento e que a expectativa é trazer uma solução em 90 dias, como apontado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Ele frisou que o debate não é simples e que a implementação de mudanças deve ser feita de forma faseada, em 2023 e, principalmente, ao longo de 2024. Lazari disse acreditar que os diversos atores conseguirão chegar a uma solução não ótima, mas boa.