Diante da pressão do Congresso para substituir a arrecadação esperada com o aumento do IOF, anunciado na semana passada, o governo busca manter a cobrança em 2025 e adiar para 2026 a adoção de alternativas ao imposto.
O Legislativo deu ao Executivo o prazo até 10 de junho para apresentar uma proposta substitutiva. Caso contrário, líderes do Congresso avisaram que não conseguirão segurar a votação dos Projetos de Decreto Legislativo (PDLs) que visam revogar o decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Segundo fontes do governo, o argumento para manter o aumento do IOF neste ano é a falta de tempo para implementar medidas estruturantes, como pedem os parlamentares. Há também o receio de descumprimento das regras fiscais sem a arrecadação extra proporcionada pela medida.
Além da dificuldade técnica e política de criar uma nova fonte de receita, qualquer proposta alternativa esbarraria na regra da noventena — que exige 90 dias entre a publicação e a entrada em vigor de mudanças tributárias —, o que inviabilizaria sua aplicação ainda em 2025.
Esse cenário foi detalhado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em reunião com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Após o encontro, Haddad afirmou que “não discutiu a revogação do decreto”, mas alertou para possíveis consequências caso isso ocorra, como um novo contingenciamento. Reforçou ainda que “a decisão de revogar cabe ao Congresso”.
Na conversa, os líderes legislativos pediram que o governo apresente alternativas estruturais para o médio e longo prazo, incluindo ajustes nos gastos públicos e no sistema tributário. No entanto, as limitações constitucionais — como as regras de noventena e de anualidade — tornam inviável qualquer mudança ainda em 2025.
IOF: governo defende medida, mas enfrenta críticas no Congresso
O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, reforçou nesta quinta-feira (29) que o aumento do IOF é “imprescindível neste momento” para assegurar o equilíbrio das contas públicas em 2025. Ele também afirmou que ainda não há uma alternativa capaz de substituir completamente a arrecadação prevista com a medida.
Mesmo diante da pressão política crescente, o governo avalia que propostas alternativas, como a antecipação da venda de petróleo do pré-sal — que poderia gerar cerca de R$ 15 bilhões —, não seriam viáveis no curto prazo. A principal razão é o tempo necessário para aprovar e operacionalizar esse tipo de solução.
O aumento do IOF, que incide sobre operações de câmbio, transferências internacionais, compras fora do país, saques e empréstimos, elevou alíquotas de 0,38% para até 3,5% em alguns casos, impactando diretamente consumidores e empresas. A estimativa do governo é que a medida adicione até R$ 18 bilhões à arrecadação em 2025.
No entanto, o Congresso tem reagido com críticas. Parlamentares do centrão e da oposição discutem pautar a revogação do decreto. Os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, afirmaram que o governo “usurpou” funções legislativas ao editar o decreto sem diálogo e reforçaram a necessidade de buscar “soluções mais positivas para o país”.