Greve dos caminhoneiros pode gerar alta da inflação

Especialistas destacam que, a depender do tempo de duração da paralisação, diferentes setores da economia podem ser afetados

Motivada pelo resultado das eleições presidenciais de 2022, a greve dos caminhoneiros, iniciada na última segunda-feira (31), começou a afetar supermercados, combustíveis e o setor aéreo, após um dia de paralisação, segundo entidades representantes dos setores.

De acordo com especialistas consultados pelo BP Money, nesta terça-feira (1), os bloqueios realizados por caminhoneiros podem, sim, gerar inflação sobre produtos e serviços. A assessora de Investimentos e professora de finanças, Virginia Prestes, destaca que o atraso na entrega de insumos pode causar efeitos negativos na economia.

“Com certeza, porque pode ocasionar a dificuldade de você entregar alguns produtos e a gente tendo menos produtos disponíveis, menos oferta, você ocasiona inflação e alta de preços, com certeza, porque você não tem ali a entrega de insumos e inclusive isso pode e está afetando já alguns ativos aqui de renda variável, como por exemplo as empresas é de alimentação, né, JBS e tudo mais”, disse Prestes. 

A professora de finanças também afirmou que algumas empresas que dependem muito do serviço rodoviário tendem a ser mais afetadas, até na bolsa de valores. 

“Por exemplo, as varejistas, ontem, não tiveram desempenho que poderiam ter tido na bolsa. Elas acabam se beneficiando de um eventual governo mais populista, que o Lula possa fazer, e o mercado imagina que elas tenham subido menos do que poderiam ter subido, justamente por conta desses bloqueios nas rodovias”, afirmou Prestes. 

“A greve atrapalha muito o fluxo, a entrega e, consequentemente, o desempenho das empresas também”, completou a professora.

De acordo com Giovana Menegotto, economista da Fecomércio-RS, o impacto da paralisação que está acontecendo em diferentes pontos de estradas brasileiras sobre preços depende basicamente do quanto, de fato, o fluxo de mercadorias está sendo impedido e do tempo de duração da paralisação.

“Assim, apesar do impacto parecer limitado até então, caso a situação não seja brevemente resolvida, há riscos de aumento nos preços, sobretudo em itens que necessitam de abastecimento frequente e dependem do modal viário – com destaque a combustíveis e alimentos perecíveis”, afirmou Menegotto.

O analista político e econômico, sócio da Vallus Capital, Caio Mastrodomenico, reiterou que as liberações das rodovias estão acontecendo sequencialmente, porém a Polícia Rodoviária Federal não consegue desfazer bloqueios no País do dia para a noite, já que o Brasil tem dimensões continentais. 

“Não se desfaz bloqueios espalhados de norte a sul em um dia, mas o impacto real disso na inflação é muito baixo. Esse bloqueio não chegou a afetar efetivamente a oferta e demanda de nenhum produto. Não há, ainda, falta de combustível nos postos ou de alimentos. Até esse exato momento, no meu ponto de vista, a influência desse movimento na inflação ainda é zero”, disse Mastrodomenico sobre a greve dos caminhoneiros.

O professor de Economia do Centro Universitário FAAP, Orlando Assunção Fernandes, destacou que, se a greve se arrefecer e perder força, os efeitos serão bastante reduzidos e diluídos. Caso contrário, os efeitos na economia podem ser bastante negativos. 

“Com o passar do tempo, se esse movimento se prolongar e tiver uma intensidade maior, isso naturalmente gerará impactos nas cadeias de produção, levará a uma escassez de produtos e naturalmente levará uma maior pressão inflacionária”, disse Fernandes.

Associações de diferentes setores da economia se pronunciam sobre paralisação

Nesta terça-feira (1), a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (ABEAR) notificou as autoridades brasileiras e companhias aéreas sobre a possibilidade de falta de combustível para os aviões nos principais aeroportos do País. A escassez se daria por conta dos bloqueios de caminhoneiros em mais de 200 rodovias.  

O presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Galassi, também se manifestou sobre as possibilidades de desabastecimento dos supermercados nesta terça.

A Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes) também se manifestou sobre a greve dos caminhoneiros e informou que “entende que o direito à manifestação não pode estar à frente do bom senso, podendo causar prejuízos à economia do país e à liberdade de ir e vir dos cidadãos que estão em trânsito”.