BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Paulo Guedes (Economia) defende que o presidente Jair Bolsonaro (PL) apoie a agenda liberal durante a campanha eleitoral de 2022. Apesar das resistências do Palácio do Planalto, o titular da equipe econômica prega que a estratégia vai atrair votos e apoio na corrida presidencial.
A visão de Guedes encontra resistências nos bastidores. Interlocutores do governo afirmam que o ministro tem sido um contraponto a pessoas do entorno de Bolsonaro, que têm tentado convencer o presidente a abandonar o discurso das reformas com receio de que essas medidas sejam impopulares e façam ele perder votos.
Guedes, no entanto, defende que votos e apoio de setores-chave serão perdidos justamente se sua agenda for deixada de lado. Por isso, tem proposto continuar a busca por medidas prometidas na campanha de 2018, como as reformas administrativa e tributária, as privatizações e a diminuição do tamanho do Estado -pacote não implementado integralmente até hoje.
“O presidente ganhou a eleição em uma aliança de centro-direita. São os conservadores de direita nos costumes, e os liberais de centro na economia. Nós temos que avançar com nosso programa, sob risco de perder o apoio do centro”, disse na última quarta-feira (1º) em evento no Ministério da Economia.
“Se a gente não privatiza, não vende, as pessoas vão pensar ‘em quem vamos votar, [se for] para ficar tudo parado, do jeito que era, estatal, tudo igualzinho como sempre foi?'”, disse. “Temos que girar, temos que seguir nossa agenda”, afirmou.
Pré-candidatos à Presidência têm buscado definir representantes na área econômica. O ex-ministro Sergio Moro escolheu o economista Affonso Celso Pastore; e o governador João Doria, o economista Henrique Meirelles. Bolsonaro, no entanto, ainda não anunciou que Guedes comandará suas propostas econômicas para 2022.
Aliados de Guedes têm afirmado que o ministro pode continuar ao lado de Bolsonaro na campanha, mas ressaltam que as dificuldades acumuladas ao longo do governo demandam agora uma garantia de apoio do presidente ao programa liberal.
Guedes já reconheceu em diferentes ocasiões que não tem conseguido completar seus objetivos. O governo não privatizou empresas inteiras -embora tenha avançado na venda de subsidiárias, como no caso da Petrobras (que alienou vários ativos, como refinarias e a BR Distribuidora).
“Estou bastante frustrado de estarmos aqui há dois anos e não termos conseguido vender nenhuma estatal. É bastante frustrante”, afirmou em novembro de 2020.
Guedes voltou a falar em frustração nos últimos dias e citou o desejo de um ritmo mais rápido na execução das medidas. “Nos frustra chegar com grandes sonhos e fazer 50%, 40%”, afirmou na terça-feira (30).
Mesmo assim, Guedes já tem falado publicamente sobre campanha eleitoral. Nos últimos dias, o ministro propôs a criação, em um novo governo, do Ministério do Patrimônio da União -que seria responsável por gerir e vender bens federais e repassar os recursos a um fundo que combateria a pobreza.
As ideias não são novas. O programa de campanha de Bolsonaro em 2018 propunha, por exemplo, que “algumas estatais serão extintas, outras privatizadas e, em sua minoria, pelo caráter estratégico, serão preservadas”.
Antes da ideia do novo Ministério do Patrimônio da União, Guedes já falava em um órgão voltado às privatizações. Em 2019, criou a Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados -comandada pelo empresário Salim Mattar, fundador e acionista da locadora de automóveis Localiza.
Mattar deixou o governo reclamando justamente do pouco avanço das privatizações por falta de vontade da política -inclusive de Bolsonaro, nos casos em que as vendas precisavam apenas de aval do Executivo. “Depende só dele. Falta vontade”, disse Mattar em setembro de 2020, pouco depois de sua saída.
As declarações de Guedes sobre 2022 até agora apontam para uma reembalagem das promessas da última eleição -pacote que contém o desafio de convencer o eleitorado que, desta vez, elas seriam cumpridas.