Haddad diz que quebra de SVB não deve desencadear crise global

Apesar da situação bancária nos EUA poder refletir nas taxas de juros, ministro da Fazenda afirma que Brasil ainda tem “gordura” para viabilizar queda da Selic

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta segunda-feira (13) que, apesar das quebras do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signatura Bank, não enxerga o risco de uma crise sistêmica na economia global. As informações são do portal “G1”.

Isso porque, segundo Haddad, o SVB é um banco regional, com carteira “descasada” do restante do sistema financeiro. Por conta disso, há a tensão nos mercados e o início de uma aversão ao risco por parte dos investidores. Mas que, aparentemente, não desencadeará uma crise global, apesar da gravidade.

“Aparentemente, não [vai gerar crise sistêmica]. Não vi ninguém tratar como Lehman Brothers, é grave o que aconteceu”, declarou, em live promovida pelo Valor Econômico em parceria com O Globo.

Crise nos EUA e taxa Selic

Segundo o ministro, mesmo em um cenário mais incerto, o Brasil ainda tem “gordura” para viabilizar uma queda na taxa Selic, já que as expectativas de inflação seguem “comportadas”.

Na semana passada, os analistas do mercado elevaram a estimativa de inflação deste ano para 5,96% (acima do teto do sistema de metas) e mantiveram em 4,02% a projeção para 2023 (ainda dentro do intervalo de tolerância do sistema de metas).

Haddad afirmou ainda que, na Europa, os dirigentes econômicos estão comemorando a queda da inflação de 9,2% a 8,5%, e afirmou que essas economias “estão com juros negativos por muito tempo [abaixo da estimativa de inflação dos próximos 12 meses]”.

“Hoje, haveria pouco espaço para redução da taxa de juros no mundo e uma gordura no Brasil, tomando as providências que têm de ser tomadas. Penso que temos um espaço que o mundo não tem”, declarou Haddad.

Em sua avaliação, o sistema bancário é muito robusto no Brasil e cumpre “com folga” acordos internacionais (Basiléia 1 e 2) – o que nos dá uma “robustez” para lidar com as oscilações do mercado.

“Creio que temos espaço, mesmo em turbulência internacional, para harmonizar política fiscal [sobre as contas públicas] e política monetária [definição dos juros para conter a inflação] para ancorar e navegar em mares internacionais revoltos, pois nossa posição permite isso. Vamos ver o tamanho do estrago fora, mas penso que estamos preparados”, concluiu.

Banco Central vai avaliar medidas

Haddad observou que o presidente do Banco Central (BC) brasileiro, Roberto Campos Neto, deve analisar eventuais providências em relação aos possíveis efeitos desses eventos nas economias periféricas.

“Isso não está claro ainda, vamos acompanhar ao longo do dia. Eu e Galípolo [secretário-executivo do Ministério da Fazenda], que também veio do sistema financeiro, estamos em sintonia fina com os bancos brasileiros. Falei com dois banqueiros hoje, e com o BC. Vamos ter mais clareza ao longo do dia”, afirmou Haddad.