Contas públicas

IFI alerta para perda de efetividade do teto de gastos em 2027

Relatório da IFI aponta que, a partir de 2027, cumprimento do teto exigiria cortes bilionários em despesas discricionárias, tornando a regra fiscal inviável

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A IFI (Instituição Fiscal Independente) projeta que as medidas de aumento de tributos anunciadas pelo governo, como a alta do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e a Medida Provisória nº 1.303/2025, devem gerar receitas de R$ 16 bilhões em 2025, R$ 39 bilhões em 2026 e R$ 31 bilhões em 2027.

Os valores ficam abaixo das estimativas oficiais, que apontam para R$ 19 bilhões, R$ 48,6 bilhões e R$ 41,1 bilhões, respectivamente.

O relatório, divulgado nesta quinta-feira (21), alerta ainda para a perda de efetividade do teto de gastos a partir de 2027.

Segundo as simulações, seria necessário bloquear entre R$ 79 bilhões e R$ 166 bilhões em despesas discricionárias, como investimentos e custeio da máquina pública, para respeitar a regra.

Para a IFI, tal cenário é considerado impraticável.

Embora a diferença entre as projeções da instituição e do governo seja pequena — R$ 1,7 bilhão em 2027 —, o órgão aponta que o problema é estrutural.

“A estratégia fiscal baseada apenas em ganhos de arrecadação está longe de resolver o desequilíbrio das contas públicas”, afirmam os diretores Marcus Pestana e Alexandre Andrade.

Medidas em vigor

A MP 1.303/2025 eleva impostos sobre setores específicos:

  • Aumenta a alíquota de apostas esportivas de 12% para 18% da receita líquida;
  • Iguala a contribuição das fintechs à dos bancos tradicionais;
  • Passa a tributar títulos de crédito imobiliário e do agronegócio, antes isentos;
  • Encarece a taxação sobre juros pagos a acionistas (JCP);
  • Restringe compensações tributárias consideradas abusivas.

O governo espera reforço imediato de caixa, mas, segundo a IFI, mesmo somadas à PEC 66/2023 — que retirou precatórios e pequenas requisições do cálculo do teto de gastos e da meta fiscal —, as medidas têm efeito limitado.

“O risco é que o alívio ilusório na apuração dos indicadores fiscais oficiais implique na postergação de medidas efetivas para o necessário e inevitável ajuste fiscal”, conclui o relatório.

Projeções de arrecadação do governo (R$ bilhões)

IOF (após ADC 96 e decretos de 2025):

  • 2025: R$ 8,4 bi
  • 2026: R$ 27,7 bi
  • 2027: R$ 29,1 bi

MP nº 1.303/2025 (apostas, fintechs, títulos, JCP e compensações):

  • 2025: R$ 10,6 bi
  • 2026: R$ 20,9 bi
  • 2027: R$ 12,0 bi