EUA: impasse sobre teto da dívida pode sacudir economia; entenda

O presidente dos EUA, Joe Biden, tenta negociar com o Congresso uma expansão do teto da dívida federal

Nas últimas semanas, o governo dos EUA e a Câmara dos Representantes têm vivido um grande impasse, que tem deixado muitos investidores estrangeiros de cabelo em pé. O presidente Joe Biden vem tentando negociar com o Congresso uma expansão do teto da dívida federal, estipulado em US$ 31,381 trilhões, mas sem sucesso. Desde janeiro deste ano, quando o teto foi atingido, os EUA não tem conseguido emitir novas dívidas, o que tem dificultado a administração de Biden em cumprir obrigações de curto prazo.

A situação é tão crítica que a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, chegou a afirmar que o país pode perder a capacidade de pagar dívidas a partir de 1º de junho caso o teto da dívida não seja elevado. Segundo Fernando Bento, CEO e sócio da FMB Investimentos, as consequências de um possível calote do governo norte-americano seriam trágicas, afetando inúmeros países ao redor do globo e podendo gerar uma recessão global. 

“Os EUA são a maior economia do mundo e têm um papel central no sistema financeiro global. Um calote da dívida norte-americana teria efeitos trágicos em países ao redor do mundo, incluindo parceiros comerciais, investidores e mercados emergentes. O comércio internacional seria afetado negativamente, assim como o crescimento econômico global, podendo gerar uma recessão global”, afirmou Bento ao BP Money.

Glerton Reis, economista e sócio-fundador da A&G Assessoria Empresarial & Tributária, explica que um calote do governo dos EUA geraria um efeito dominó, pois os títulos de dívida norte-americanos são os pilares da economia mundial, sendo o principal ativo de reserva dos Bancos Centrais mundiais, além de ser usado entre bancos dos EUA e internacionais. 

“As consequências seriam catastróficas e iriam gerar um efeito dominó, pois os títulos de dívida norte-americanos são os pilares da economia mundial. Eles são usados entre bancos americanos, bancos internacionais e são os principais ativos de reserva dos Bancos Centrais. Desta forma, um calote do governo dos EUA geraria uma grande desova desses títulos, uma alta de juros e consequentemente uma queda brusca da demanda mundial, desencadeando em uma grande recessão global”, disse Reis.

Caso o governo de Joe Biden não chegue a um acordo com o Congresso a respeito da elevação do atual teto da dívida dos EUA até o dia 1 de junho, Guilherme Morais, analista da VG Research, acredita que os mercados financeiros globais irão reagir de forma negativa.

“Se até o dia 1 de junho não for aprovado um novo limite para o teto da dívida americana, a tendência é de uma reação negativa dos mercados globais. Os títulos americanos são considerados como a base do mundo dos investimentos, pois são os títulos “risk free”, ou seja, os mais seguros do mundo”, afirmou.

“Além disso, como estamos passando por um momento global de desaceleração nas principais economias, a reação natural seria de queda nas bolsas. Basta lembrarmos que em 2011 os EUA passaram por uma negociação de ajuste da dívida parecido com o atual e o índice S&P 500 caiu aproximadamente 15% durante a negociação”, acrescentou Morais.

Possível calote dos EUA pode causar alta dos juros

De acordo com Morais, caso o governo dos EUA comece a dar um calote nos investidores, há a possibilidade do Fed (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano) elevar ainda mais a taxa de juros do país, a fim de manter a atratividade dos títulos de dívida dos EUA.

“Caso ocorra um calote, a tendência seria de um aumento da taxa de juros por parte do Fed para manter os investidores interessados nos títulos, que terão um maior risco. No entanto, esta decisão é complexa e envolve vários fatores, pois o nível atual dos juros é elevado para o padrão norte-americano”, relatou o analista da VG Research.

Partilhando da análise Morais, Bento ainda relembra que os títulos do Tesouro dos EUA são considerados os ativos financeiros mais seguros do mundo, sendo utilizados como referência para a definição de taxas de juros no mundo. Logo, se o governo norte-americano não pagar seus credores no prazo, muitos países precisariam elevar suas taxas de juros.

“Um calote da dívida norte-americana causado pelo limite do teto da dívida teria um impacto gigantesco na economia global. Isso aumentaria os custos de empréstimos não apenas para os EUA, mas também para outros países. Os títulos do Tesouro dos EUA são considerados os ativos mais seguros do mundo e são amplamente utilizados como referência para a definição de taxas de juros em todo o mundo. Um calote levaria a uma percepção de maior risco nos mercados financeiros, resultando em taxas de juros muito mais altas para governos, empresas e consumidores”, explicou o CEO da FMB Investimentos.

E o dólar?

Com a grande tensão no exterior a respeito do alongamento do teto da dívida dos EUA, muitos investidores têm se perguntado: e o preço do dólar? Vai cair ou subir?

Segundo Bento, em um cenário no qual os EUA teriam dificuldades em pagar suas dívidas, muitos investidores iriam procurar refúgio em outras moedas fortes, resultando em uma desvalorização da moeda norte-americana.

“Um calote da dívida norte-americana também poderia levar a uma desvalorização do dólar no cenário internacional. A perda de confiança na capacidade dos EUA de honrar suas obrigações de dívida poderia levar os investidores a buscar refúgio em outras moedas de países desenvolvidos, o que poderia resultar em uma desvalorização do dólar em relação a outras moedas”, pontuou.

Assim como o CEO da FMB Investimentos, Morais afirma que muitos agentes financeiros, em um cenário de calote dos EUA, iriam buscar ativos de outros países, ocasionando em uma queda do dólar.

“A tendência é a de desvalorização do dólar no curto prazo, pois a percepção de risco seria acentuada. Se os EUA, que é considerado como o país mais seguro para se investir, não pagar seus títulos de dívida, investidores podem vender parte de seus títulos e buscar países alternativos como forma de segurança, tais como Suíça e Reino Unido”, disse o economista.