
O adiamento da votação da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026 acendeu um novo sinal de alerta no mercado. Com o Congresso ainda distante de um consenso sobre o texto, a análise deve ocorrer apenas em novembro, e a indefinição já começa a gerar efeitos concretos sobre o custo da dívida e as decisões de investimento.
Em um cenário que combina juros de 15% ao ano, inflação projetada em 4,7% e crescimento estimado de apenas 2,1% em 2025, a falta de metas e diretrizes fiscais reforça o sentimento de imprevisibilidade.
A consequência, segundo analistas, é uma economia que entra em compasso de espera.
“O adiamento da LDO amplia a incerteza fiscal, compromete o planejamento orçamentário da União e posterga decisões de investimento”, afirma Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
“Sem diretrizes de gasto, o mercado precifica maior risco, elevando juros futuros e pressionando o custo de capital das empresas.”
Setores mais afetados e impacto sobre investimentos
Os efeitos da indefinição fiscal se espalham de forma desigual entre os setores. Monteiro aponta que infraestrutura, construção civil e energia estão entre os mais prejudicados, justamente por dependerem de contratos e recursos públicos.
Municípios que aguardam transferências federais também enfrentam dificuldades para ajustar seus orçamentos.
“Diversas companhias adiaram leilões, obras e expansões vinculadas a concessões e contratos públicos. Empresas privadas, especialmente em setores regulados, também têm postergado investimentos até que o cenário fiscal seja definido”, diz o executivo.
Além de travar a agenda de investimentos, o atraso na LDO também impacta a execução de políticas públicas. Programas sociais e projetos de infraestrutura correm o risco de começar o ano sem dotação garantida, atrasando empenhos, pagamentos e licitações.
“Isso reduz a eficiência da máquina pública e compromete a execução de metas do próprio governo”, reforça Monteiro.
Confiança e previsibilidade fiscal como base do crescimento
Para o CEO do Grupo Studio, a previsibilidade das contas públicas é um pilar essencial para que empresas consigam planejar, projetar fluxos de caixa e adotar estratégias de longo prazo.
“Sem previsibilidade, as companhias precisam trabalhar com cenários mais conservadores e reavaliar suas projeções financeiras”, afirma.
A ausência de um plano fiscal claro também eleva o risco-país e o custo de financiamento, o que encarece o crédito e reduz a competitividade da economia brasileira.
“O equilíbrio fiscal é o que garante segurança, reduz o custo de capital e cria o ambiente necessário para que o país volte a crescer de forma sustentável”, completa Monteiro.
Mesmo com um ambiente macroeconômico desafiador, Monteiro destaca que o mercado tem aprendido a valorizar empresas com boa governança e liquidez.
“O principal aprendizado é que a comunicação fiscal clara e a consistência de metas são determinantes para manter a confiança. Em tempos de incerteza, empresas que reforçam governança e liquidez ganham vantagem competitiva”, conclui.