Pós ICE

Indústria estimula confiança e pode sustentar recuperação econômica

O Índice de confiança empresarial subiu pelo 6º mês consecutivo em agosto; esse otimismo pode recuperar outras forças econômicas relevantes

Foto: CanvaPro / Indústria
Foto: CanvaPro / Indústria

Com os principais indicadores mostrando avanços, a indústria brasileira tem direcionado o momento de maior confiança entre o empresariado. Essa base tende a gerar um movimento de melhoria em escala nas diferentes áreas econômicas, como o mercado de trabalho e também em ações do setor ciclíco, indicaram analistas.

foi o que revelou o ICE (Índice de Confiança Empresarial) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), que subiu pelo 6º mês consecutivo em agosto.

O indicador subiu para 97,9 pontos no período, melhor nível desde de setembro de 2022, com uma alta de 4,3 pontos em 6 meses. O principal pilar desses números foi a indústria de transformação, que tem indicado sinais de aquecimento, segundo Aloisio Campelo Junior, superintendente de Estatísticas Públicas do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da FGV).

Em resposta ao BP Money, o presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), Pedro Afonso Gomes, ressaltou que a confiança do empresariado mais fortalecida forma uma reação em escala entre os investimentos nos setores econômicos, a geração de empregos, os financiamentos e o mundo do trabalho.

“Se o consumidor sabe que lhe será possível ter renda para pagar à vista ou a prazo, ele compra. E a economia gira”, disse Gomes.

No mercado de trabalho, os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostraram que o Brasil abriu 188.021 vagas formais de trabalho em julho.

No PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre, a indústria também foi o principal destaque, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), que indicou um crescimento de 1,8% do segmento econômico dentro do indicador no trimestre, e expansão de 3,91% na comparação anual.

A instituição também indicou que o crescimento de 1,8% do setor na base trimestral foi o maior para esse tipo de comparação desde o avanço de 3,3% no 1TRI22.

Indústria da transformação puxa crescimento e reflexo deve chegar à Bolsa

Considerando uma segmentação ainda mais específica, a indústria de transformação subiu 1,8% no 2TRI24, ante o 1TRI24. A indústria alimentícia foi a base mais sólida que sustentou essa performance no período, segundo o IBGE. 

O papel dessa divisão industrial específica é transformar matérias-primas em produtos finais ou intermediários, e faz parte do ciclo cíclico da economia.

Gomes detalhou que o impulso do setor nesse período tem sido “a percepção de que a economia tende a acelerar suas atividades, permitindo que se criem empregos e as mercadorias circulem e os serviços de apoio se ampliem”.

Felipe Sant’ Anna, especialista em mercado da mesa proprietária Star Desk, reforçou que esse segmento tem tido bon resultados por conta do baixo estoque. Segundo ele, o setor tem uma previsibilidade de compra no curto prazo e ela está conseguindo entregar isto.

“Tudo isso também tem a ver com o PIB, que foi divulgado essa semana. O Brasil está crescendo, de uma forma ou de outra ele está crescendo, ainda que de forma desigual dentro dos setores”, acrescentou.

Sant’Ana destacou que o crescimento econômico causa, nas classes sociais de renda mais baixa, o aumento de compras de supermercado, logo, as empresas varejistas são as que sentem o primeiro impacto.

“As pessoas compram máquina de lavar, compram fogão, geladeira, e vão muito para o varejo de alimentos. Podemos notar isso nos papéis como Pão de Açúcar, Assaí, Grupo Mateus, que são papéis que tomam esse primeiro dinheiro do consumidor de baixa renda, afetado pelo crescimento e da confiança dos empresários e dos industriários”, explicou.

Recuperação do setor deve sofrer com Selic alta

Mas, justamente por ser um setor cilício, a indústria também corre riscos com as volatilidades macroeconômicas, como as mudanças na política monetária. 

O BC (Banco Central) se reunirá entre os dias 17 e 18  de setembro para decidir o caminho da Selic (taxa básica de juros). Além disso, o Fed (Federal Reserve), Banco Central do EUA, também se reunirá em 18 de setembro pra deliberar sobre sua taxa de juros.

“A tendência é que os juros caiam tanto nos EUA quanto no Brasil, e isso vai amparar a ampliação da produção industrial e a dinâmica dos serviços, além de fazer o setor agrícola, cuja atividade reduziu-se um pouco, voltar a crescer, pela renda que circula na economia”, afirmou Gomes.

O economista reforçou também que para recuperar os níveis de produção de 2012, a indústria brasileira precisa crescer cerca de 20%, o que só deve acontecer dentro dos próximos 3 a 4 anos.

Sant’Ana reiterou, no entanto, que a confiança que o empresariado tem demonstrado nos últimos 6 meses pode virar drasticamente se uma alta da Selic se confirmar, seja em setembro ou em uma reunião posterior do Copom.

“O dinheiro fica mais caro, ficam mais caros os juros de cheque especial, de cartão de crédito, de empréstimo direto ao consumidor. O movimento é totalmente inverso, o dinheiro mais caro faz com que os empresários tenham mais cautela na hora de emprestar, ou mesmo tornem mais restritiva a venda, principalmente para as classes C, D e E”, finalizou o especialista.

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