Toda semana, o mercado financeiro tem um encontro marcado com o Boletim Focus do BC (Banco Central), para acompanhar as novas expectativas dos principais dados econômicos. No entanto, essa e outras projeções para inflação estão dentro dos limites, ou pretendem criar um cenário favorável?
Conforme as últimas estimativas, espera-se um aumento na inflação deste ano, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), saindo de 3,80% a 3,86%. Enquanto os números para o PIB (Produto Interno Bruto) e para a Selic (taxa básica de juros) permaneceram em 2,05% e 10%, respectivamente.
Consultado pelo BP Money, Pedro Afonso Gomes, presidente do Corecon-SP, disse não acompanhar a expectativa de aumento da inflação do Focus, que chega, inclusive, a ser “contraditório com o PIB e a Selic”.
“Acredito que o Focus esteja mirando muito na crise ambiental do Rio Grande do Sul e as suas consequências, por isso ele diz que poderá haver inflação”, comentou.
Segundo ele, a redução na produção “não foi boa, mas não foi tanta redução”. Isto porque a colheita das principais safras, quase o total das que mexem com os preços e com os índices inflacionários, já havia ocorrido antes das enchentes.
Enquanto isso, Bruno Corano, economista e investidor da Corano Capital, não compartilha o mesmo caminho e explicou que forças diversas têm agido sobre a inflação, empurrando sua projeção para frente.
“Principalmente a desvalorização cambial, uma certa pressão por oferta, um aumento de preço de algumas commodities, em especial na área no agronegócio, em alimentos, e uma demanda que permanece aquecida”, listou.
Segundo Gomes, o mercado trabalha com uma ideia errada sobre a redução da inflação, que é o controle da Selic (taxa básica de juros).
Contudo, a taxa não influencia o cenário, pois se ela estiver mais alta não inibirá o consumo dos bens mais importantes, destinados à população com menos de salários mínimos, explicou ele.
“A Taxa Selic está sendo mantida artificialmente pelo Banco Central em patamares altos, o que favorece os investidores financeiros e prejudica todo o restante da economia”, reiterou Gomes.
Inflação: postura responsável do Governo Federal para controle se tornou mito
Na tentativa de acalmar o humor do mercado financeiro, que não tem demonstrado muito ânimo com a Bolsa brasileira, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse esperar que o cenário se estabilize.Para ele, esse aumento é reflexo dos ruídos recentes com o Governo Federal.
Na visão de Corano, os indicadores mostram que o resultado primário será menor que o previsto, o que representa que o Brasil está se endividando, com mais necessidade de financiamento. O que, inevitavelmente, pressiona a inflação.
“Parece um pouco vago, mas o mercado espera que o país seja gerido de forma responsável e no entendimento dele, qualquer um que gasta mais do que ganha é uma irresponsabilidade. Primária básica, essencial”, afirmou ele.
Na contramão, Gomes afirma que a maneira como o governo federal tem conduzido a política de inflação está correta.
Houve decréscimos evidentes em preços muito significativos e há alguns desequilíbrios eventualmente, o que também, de alguma maneira, é influenciado por fatores externos, segundo ele.
Ainda assim, os passos econômicos do governo são observados com descrença quanto à capacidade de manter as metas fiscais. Mesmo diante das tentativas de convencer os investidores de que o resultado primário trará um número equilibrado.
“Governos de esquerda tem pouco compromisso com superávits fiscais e não veem sentido quando o social está em primeiro plano”, comentou Ricardo Martins, economista- chefe da Planner Investimentos.
“Já ficou evidente, até pela alteração das metas fiscais que contemplavam superávits crescentes, que a tendência no mínimo é ficar dentro da banda de tolerância, ou os 0,25% de déficit”, completou.
Uma postura de disciplina e qualidade dos gastos públicos, redução de despesas e foco em aumentar o resultado fiscal, gerando superávits seria uma boa indicação para a redução das expectativas de descontrole, apontou Martins.
A pressão aumenta ainda mais à vista de que 2024 é um ano eleitoral. Logo, a possibilidade de desequilíbrio nas contas públicas crescem a cada acordo firmado entre os poderes executivo e legislativo.
“São as pressões políticas. Vemos o Congresso fazendo as pressões sobre o executivo e elas diminuem na medida em que haja cascos de interesse dos parlamentares. É por isso que o governo tem que equilibrar-se nas votações do Congresso”, disse Pedro Gomes.