Em palestra durante painel do FMI, o ministro Fernando Haddad afirmou que uma inflação de 4% a 5% está dentro da normalidade . Apesar da meta de inflação em 3% e seu limite em 4,5%, as projeções apontam para um resultado acima do recomendado, analistas do BP Money comentam sobre o ‘novo normal’.
Fabricio Silvestre, economista da Levante Inside Corp, fundamenta o comentário do ministro em passado e futuro. Para ele, a afirmação engloba uma percepção global de inflação mais elevada, uma tendencia que reflete desdobramentos da pandemia, especialmente a reorganização de cadeias produtivas.
“Já para frente, o tema das tarifas nos EUA se soma a essas preocupações, indicando um movimento em direção a um menor grau de globalização, com países adotando posturas mais protecionistas.”, destaca. O câmbio também reforça uma inflação mais alta com custo para exportações e um lastro de alta do dólar em 2024.
“No atual quadro econômico, a inflação brasileira está sendo pressionada pelo patamar da taxa de câmbio (R$/US$) mais desvalorizada, que tem pressionado os custos das empresas, e pelos preços domésticos das commodities, além de fatores climáticos.”, comenta o conselheiro do Corecon- SP, André Paiva.
O desempenho da inflação brasileira nos últimos anos confirma a impossibilidade de 3% como parâmetro. Paiva relembra que o choque de oferta e demanda, além de abruptas oscilações nos preços dos combustíveis e seu natural reajuste fazem com que uma meta de 4,5% na inflação seja mais ‘toleravel’.
Cenário interno
Para alguns especialistas, a declaração do ministro mistura tendencia política e uma leitura de como a economia brasileira está estruturada. Ricardo Eleutério, economista da universidade Cruzeiro do Sul, explica que apesar de uma política monetária mais rígida, a política fiscal é decisiva no patamar da inflação. Ele acredita que Haddad está preparando a pulação para a eventual superação do teto.
Felipe Sant’Anna, especialista em mercado da Star Desk, vai na mesma linha de raciocínio: “O principal cenário de incertezas é o doméstico, visto que o rombo fiscal é uma realidade e não estamos vendo nenhuma postura mais dura para consertar isso.”
Para o especialista, comparar uma inflação de 10% no governo anterior e o desempenho do limite em 4,5% do atual é como olhar cenários de guerra e paz: “A Selic elevada reflete a irresponsabilidade fiscal do Brasil, os gastos sem freio e o endividamento constante da união. Por posição política, o atual governo não quer atacar os problemas estruturais, então não temos qualquer previsão de melhora consistentes taxas de juros”.