Opinião de especialistas

Inflação e juros colocam em xeque continuidade das tarifas de Trump

A decisão de Trump em suspender as tarifas recíprocas por 90 dias, deixou o Fed em um dilema

Fonte: Molly Riley
Fonte: Molly Riley

A “era dourada da américa”, slogan de campanha do presidente norte-americano Donald Trump, não está sendo bem-vista pelo mercado. As políticas tarifárias dos EUA vêm sofrendo revelias e desestabilizando as bolsas. A previsão, segundo especialistas ouvidos pelo BP Money, é de flexibilização no curto prazo.

A decisão de Trump em suspender as tarifas recíprocas por 90 dias aos países, com exceção da china, deixou o Fed, banco central norte-americano, em um dilema: cortar a taxa de juros para ajudar a evitar uma desaceleração econômica ou mantê-las altas para prevenir novas altas da inflação.

Marisa Rossignoli, Conselheira do CORECON SP, aposta na manutenção da taxa de juros pela autarquia estadunidense. Ela aponta que assim que as tarifas impactarem o padrão de consumo da população, aliado a uma queda de popularidade e pressão popular levarão a uma flexibilização das medidas.

Para André Franco, CEO da Boost Research, Trump está com a bola e decidirá por sua conta e risco a continuidade da política.

Alexandre Miserani, professor de Economia da Uniarnaldo, alerta que as tarifas de Trump podem levar os EUA a uma inflação alta e perigosa.

“Isso faz com que a repercussão de todo esse movimento que já se vê nas ruas e a insatisfação contra esse tarifaço, ele pode levar sem sombra de dúvida ao governo Trump repensar essas tarifas, como ele já fez em relação ao México”, avaliou.

Os analistas convergem que os EUA são o maior consumidor em diversos setores da economia global e a possibilidade de substituição por países emergentes no longo prazo é nula.

O poder de compra do cidadão americano é avaliado em dólar e seu alcance de consumo é muito mais elevado do que outras moedas de menor cotação.

Tarifas afetam incremento ao consumo

Miserani afirma que o norte-americano vai sentir velozmente a perda em seu poder de consumo, ele cita as primeiras medidas contra o México, que acabou por encarecer o preço dos produtos da Tesla. A empresa de Musk tem linhas de produção instalada no país vizinho pelos outrora baixo custo de importação.

A taxação elevou o preço dos veículos, o que fez as vendas da companhia reduzirem e seu valor de mercado despencar após o início do mandato do republicano.

“Os EUA são muito bons na área de serviços, altamente tecnológico no que diz respeito aos sistemas informacionais, mas em questão de indústria de base, em questão de indústria de consumo, ele não tem os insumos e nem qualidade de trabalho da forma que a China, por exemplo, tem”, explica.

Para Franco, não há possibilidade de transferir o consumo do americano, essa vantagem permite uma economia constantemente ativa.

Rossignoli completa o colega avaliando que esse elemento afeta diretamente o desempenho eleitoral do mandatário e pode ter reflexos negativos em uma próxima eleição.