SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O volume de vendas do varejo brasileiro voltou a cair em setembro, com baixa de 1,3% na comparação com agosto, informou nesta quinta-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Trata-se do segundo recuo do comércio em sequência e da maior retração para o nono mês do ano na série histórica, iniciada em 2000.
O resultado negativo vem em um contexto de escalada da inflação, que prejudica os negócios, porque eleva os custos de operação das empresas e diminui o poder de compra da população.
O comércio também ficou no vermelho frente a setembro de 2020. Nesse tipo de comparação, a queda foi de 5,5%, calcula o IBGE.
Analistas projetavam baixas menos intensas. Conforme pesquisa da agência Reuters, as expectativas eram de recuos de 0,6% na comparação mensal e de 4,25% sobre um ano antes.
Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, afirmou que a inflação elevada é o fenômeno mais importante para explicar a queda do varejo em setembro. O setor ainda é abalado por restrições de acesso a crédito e renda fragilizada dos trabalhadores, segundo o técnico.
“Na margem, o principal fenômeno é a inflação”, disse Santos.
Com o resultado de setembro, o comércio ficou 0,4% abaixo do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Em agosto de 2021, o setor estava 0,9% acima do pré-crise.
Entre as oito atividades pesquisadas pelo IBGE, seis tiveram taxas negativas em setembro.
As quedas mais intensas foram de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,6%), móveis e eletrodomésticos (-3,5%) e combustíveis e lubrificantes (-2,6%).
Segundo o IBGE, a atividade com o maior peso na formação da taxa de setembro foi hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo. O setor caiu 1,5%.
Por outro lado, duas atividades apresentaram estabilidade ou leve avanço: livros, jornais, revistas e papelaria (0%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (0,1%).
No acumulado de 12 meses, o Brasil registra inflação de dois dígitos. Até outubro, dado mais recente, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou alta de 10,67%, a maior desde janeiro de 2016 (10,71%).
Conforme Santos, a escalada inflacionária é percebida com mais força em atividades do comércio como combustíveis e lubrificantes e hipermercados, supermercados e produtos alimentícios.
Nos últimos meses, o avanço do petróleo e do dólar tem pressionado itens como gasolina e óleo diesel no Brasil. No caso dos alimentos, também há o efeito da moeda americana mais alta, além do impacto da valorização das commodities no mercado agrícola e das perdas em lavouras geradas pelo clima adverso.
Mesmo com o desempenho de setembro, o varejo ainda acumula alta de 3,8% no ano e de 3,9% em 12 meses.
A série do comércio tem sido marcada por fortes revisões nos últimos meses. Não foi diferente desta vez. Além de divulgar o dado de setembro, o IBGE atualizou resultados anteriores.
A queda de agosto, por exemplo, ficou maior com a revisão, passando de 3,1% para 4,3%.
Segundo o IBGE, a pandemia trouxe muita volatilidade para os números e, por isso, exige revisões constantes e de grande amplitude.
“O desarranjo das cadeias produtivas influencia eventuais revisões no dado sazonal”, apontou Santos.
O comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, teve queda de 1,1% nas vendas em setembro, ante agosto. Veículos recuaram 1,7%, enquanto materiais de construção tiveram perda de 1,1%.