Fala de dirigente

'Inflação vai piorar em 12 meses antes de melhorar', diz BC

Para os próximos 6 meses, o BC vê a inflação ainda em ritmo de alta, ficando acima do teto do limite de tolerância da meta de 3%

Nilton David, novo diretor de Política Monetária do BC / Foto: Reprodução/LinkdIn
Nilton David, novo diretor de Política Monetária do BC / Foto: Reprodução/LinkdIn

Nilton David, novo diretor de Política Monetária do BC (Banco Central), destacou que o cenário da inflação será desafiador nos próximos meses e que “a inflação vai piorar o [acumulado em] 12 meses antes de melhorar”.

Conforme apontado pela autarquia na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), se as projeções do cenário de referência se concretizarem, o acumulado da inflação em 12 meses vai ultrapassar o teto do intervalo de tolerância da meta nos primeiros seis meses do ano.

“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, consta na ata. Atualmente, o BC estabeleceu a meta de 3% para a inflação, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

David ressaltou ainda, segundo o “Valor”, que “a gente tem uma boa convicção que [a política monetária] estava contracionista antes da última alta e está mais contracionista agora, que o processo vai convergir, que no terceiro trimestre do ano que vem, a gente vai estar em 4%, dentro do intervalo, mas acima do centro”.

O horizonte relevante da política monetária é do terceiro trimestre de 2026 e a projeção do Copom é que a inflação estará em 4%. O colegiado decidiu, na última reunião, elevar a Selic (taxa básica de juros) de 12,25% para 13,25% ao ano.

“É muito complicado você imaginar que essa expectativa de você estar com política monetária apertada e não ver a coisa acontecer, por mais que a gente saiba das defasagens, não ajuda muito na parte das expectativas, e expectativas são algo que a gente leva muito a sério”, disse David durante evento organizado pelo Bradesco BBI, nesta sexta-feira (21).

Em paralelo a isso, o diretor também ressaltou que, sem uma projeção de queda na inflação acumulada em 12 meses nos próximos seis meses, o BC não “antevê uma grande alteração nas expectativas”. 

A volatilidade segue sendo maior que de costume nos dados de entrada nos modelos, segundo David. “Acho que as pessoas vão ter um pouco de relutância em trazer para baixo depois de ter levado para cima recentemente, que eu credito um pouco ao ruído que teve em dezembro”, afirmou.

Inflação de 4,5% é tolerável, mas não deve ser normalizada, dizem analistas

Em palestra durante painel do FMI, o ministro Fernando Haddad afirmou que uma inflação de 4% a 5% está dentro da normalidade . Apesar da meta de inflação em 3% e seu limite em 4,5%, as projeções apontam para um resultado acima do recomendado, analistas do BP Money comentam sobre o ‘novo normal’.

Fabricio Silvestre, economista da Levante Inside Corp, fundamenta o comentário do ministro em passado e futuro. Para ele, a afirmação engloba uma percepção global de inflação mais elevada, uma tendencia que reflete desdobramentos da pandemia, especialmente a reorganização de cadeias produtivas.

“Já para frente, o tema das tarifas nos EUA se soma a essas preocupações, indicando um movimento em direção a um menor grau de globalização, com países adotando posturas mais protecionistas.”, destaca. O câmbio também reforça uma inflação mais alta com custo para exportações e um lastro de alta do dólar em 2024.

“No atual quadro econômico, a inflação brasileira está sendo pressionada pelo patamar da taxa de câmbio (R$/US$) mais desvalorizada, que tem pressionado os custos das empresas, e pelos preços domésticos das commodities, além de fatores climáticos.”, comenta o conselheiro do Corecon- SP, André Paiva. 

O desempenho da inflação brasileira nos últimos anos confirma a impossibilidade de 3% como parâmetro. Paiva relembra que o choque de oferta e demanda, além de abruptas oscilações nos preços dos combustíveis e seu natural reajuste fazem com que uma meta de 4,5% na inflação seja mais ‘toleravel’.

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