Em qualquer momento das nossas vidas nos deparamos com escolhas conflitantes. Seja no momento em que vamos escolher entre comprar x ou y, o que assistir durante os 30 minutos de descanso ou até calculando seu tempo de estudo comparando a sua escala de trabalho. Na economia, as questões conflitantes são chamadas de “trade-offs” e a ideia de “trade” já é bem auto explicativa, quando você abre mão de algo para realizar outra coisa.
Na macroeconomia, há um conflito que originou toda a discussão sobre custo de oportunidade na formulação de políticas públicas no pós-crise de 1929: Trade off entre Desemprego e Inflação. A discussão foi originada pela publicação de Phillips em 1958, onde o autor analisa os dados de crescimento do salário nominal e taxa de desemprego no Reino Unido durante a década de 50.
Dentro de sua argumentação, o economista apresenta uma relação inversa entre as variáveis, concluindo que a inflação (preços = salários) é função direta do emprego, mostrando que a cada x pontos de inflação a mais o desemprego reduziria, por exemplo, x/2 (as relações de grandeza variam por tabela no estudo original).
As conclusões teóricas viraram práticas, e a macroeconomia ganhou a chamada Curva de Phillips, onde a relação descrita acima está evidenciada. A aceleração dos preços, por indicar também, o crescimento econômico, gera um nível de emprego dos fatores maiores, incluindo o trabalho, diretamente ligado aos salários nominais. O inverso também é verdade no modelo: O custo da redução da inflação é o aumento do desemprego:
Fonte: Dornbusch, 2010
A recém nascida Curva de Phillips não teve grande sobrevida na área de política econômica por muito tempo. Logo, descobriu-se que a relação não obedecia o mesmo viés quando analisadas as variáveis a longo prazo, mas continua sendo importante para a análise de curto prazo (por isso Short Run Phillips Curve).
No curto prazo, as firmas adaptam o crescimento nominal ou estímulos monetários/fiscal como crescimento econômico. Um ponto adicionado ao produto (renda) gera, de fato, um resultado em menor nível de desemprego que, de certa forma, não é inteiramente convertido em inflação ao consumidor e sim em crescimento do salário real (perceba que aqui cito o salário real e não o nominal). Em termos simples, intervenções podem gerar crescimento, no curto prazo, tendo esse prazo como função direta do “slope” (constante de acomodação das expectativas) da curva de oferta.
Para hoje, fica o entendimento dessa relação: A cada ponto adicionado ao desemprego, a inflação perde força. Isso vale no curto prazo e é correto se analisarmos salários x emprego, já que um é remuneração e o outro fator. No próximo texto, vou explicar como enxergamos esse trade-off hoje e vou explicar melhor a questão ligada a curva de oferta e a taxa de desemprego natural. Há uma série de conclusões e abordagens no assunto, o importante é entender gradualmente como a economia é uma ciência recente e carece de muito tempo e estudo para conclusões quase-definitivas.