Infraestrutura dos EUA sofre até com ferrugem

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Duas pontes em Washington, que ficam lado a lado, servem como exemplo da situação da infraestrutura no país. As duas tem asfalto impecável, mas a situação embaixo delas muda bastante. A Arlington Memorial, que leva ao cemitério militar homônimo, foi recentemente reformada, ao custo de US$ 227 milhões, em uma obra entregue em dezembro, e parece impecável.
Já a ponte vizinha, Theodore Roosevelt, que recebe tráfego mais pesado, tem diversos pontos de ferrugem na estrutura, visíveis a vários metros de distância.
As duas foram classificadas como em “condições pobres” pelo Departamento de Transportes, em seu levantamento mais recente, de 2020, antes do fim da reforma da Arlington. Além delas, outras seis pontes no Distrito de Columbia, que abrange a capital, estavam em más condições.
O governo faz uma avaliação anual das pontes do país, em critérios como qualidade do pavimento e da estrutura. A classificação final leva em conta a menor nota final recebida em um dos itens. Se ele for menor que 4, a condição é “pobre”, Entre 5 e 6, está “justa”. Acima de 7, recebe o selo de “bom”.
Com as falhas de conservação, ao menos dois acidentes ocorreram na capital do país nos últimos meses. Em junho, uma passarela de pedestres caiu sobre uma via expressa na área noroeste da cidade, após ser atingida por um caminhão, e feriu cinco pessoas. Ela havia sido considerada em “condições pobres” em uma avaliação de fevereiro.
Em agosto, um túnel que passa perto do Congresso ficou uma semana fechado após alagar por causa de um rompimento na rede de água.
A reforma de pontes e estradas do país, assim como das redes de água, é parte do mega pacote de investimentos em infraestrutura que o Congresso dos EUA debate neste mês. A proposta foi aprovada no Senado, em agosto, e aguarda o aval da Câmara. Um acordo entre os líderes prevê que seja votada nos próximos dias.
O pacote, que foi sendo enxugado, prevê gastos de US$ 550 bilhões nos próximos cinco anos em infraestrutura. Para pontes e estradas, serão direcionados US$ 110 bilhões, sendo US$ 40 bilhões em reparos. O governo espera que o pacote de obras gere mais empregos e modernize a estrutura nacional.
Um estudo da Artba (Associação Americana de Construtores de Estradas e Transporte) apontou que o reparo de todas as pontes do país custaria ao menos US$ 41,8 bilhões. E que um terço das estruturas com problema precisa ser completamente substituída.
“No ritmo atual [antes do pacote], seriam necessários 40 anos para consertar as pontes americanas com problemas”, disse a entidade, em relatório recente.
Para Robert Poole, diretor de política de transporte do think tank Reason Foundation, atrasos na manutenção são uma das principais razões para o estado atual das vias. “Legisladores têm um incentivo político para focar os gastos de transportes em novos projetos, pelos quais podem levar crédito, em vez de garantir primeiro o funcionamento da estrutura existente”, disse.
Poole também critica o ponto de que o sistema de rodovias interestaduais, que tem mais de 50 anos, por ora não está contemplado no pacote. “Um estudo de 2015, feito a pedido do Congresso, apontou que a reconstrução e o alargamento dessas rodovias custaria mais de US$ 1 trilhão, mas não há previsão de recursos para elas no projeto atual. As interestaduais são vitais para a economia dos EUA”
O diretor defende que o governo volte a usar 100% dos recursos da taxação de combustíveis para custear a manutenção de estradas. Nas últimas décadas, parte desse dinheiro passou a ser gasto em calçadas, ciclovias e transporte público. E que no futuro esses impostos sejam trocados por taxas por quilômetro rodado, já que o avanço dos veículos elétricos deverá reduzir o consumo de gasolina e diesel.
Os parlamentares ainda debatem de onde virá o dinheiro para custear o plano. Espera-se usar parte das verbas para o combate à Covid que sobraram, ampliar o déficit público dos próximos anos e aumentar impostos, especialmente sobre quem possui renda mais alta.
O debate sobre como custear as obras se repete nos estados. Em Michigan, nas eleições de 2018, “fix the damn roads” (conserte as malditas estradas) foi um lema de campanha da governadora democrata Gretchen Whitmer. Após tomar posse, ela propôs aumentar um imposto sobre os combustíveis para custear a reforma, mas a proposta foi barrada no Legislativo.
Assim, enquanto os governos debatem como arrecadar recursos, o asfalto das estradas de Michigan -berço da indústria automobilística dos EUA- segue ruim. Na estrada Ford road, em Dearborn, a pista é tão irregular que o som dos carros passando lembra o de cascos de cavalos.

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