BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A insatisfação dos empresários e banqueiros com o andamento da segunda fase da reforma tributária, relacionada ao imposto de renda, serviu de mola propulsora para a manifestação que pedia a harmonia entre os três poderes da República.
Com a possibilidade de a reforma não sair, depois de dois meses intensos de negociações entre membros do Ministério da Economia e diversos setores empresariais, as duas grandes entidades que coordenaram o movimento pela manifestação -Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)- procuraram elevar o tom.
Tudo isso em meio à medição pública de forças entre o presidente Jair Bolsonaro, membros do STF (Supremo Tribunal Federal) e os líderes do Congresso Nacional.
Nas palavras de um executivo que acompanhou as discussões na Fiesp, foi a “junção da fome com a vontade de comer”: os empresários insatisfeitos com a reforma, tentando se recompor dos efeitos da pandemia, preocupados com o planejamento dos negócios em 2022, que começa agora em setembro, assistindo os poderes travarem um cabo de guerra em Brasília.
Segundo ele, a necessidade de realinhar os negócios ao pós-pandemia esbarra neste “tumulto institucional” que gera insegurança jurídica. Especialmente às vésperas de um ano eleitoral, em que parte das compras governamentais são travadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
De acordo com este executivo, dentro da entidade, conselheiros ligados à indústria química – um dos setores que devem perder subsídios com a reforma – teriam insuflado o movimento a favor do manifesto. A Fiesp, capitaneada por Paulo Skaf, elaborou o documento e saiu solicitando o logotipo de cada entidade na assinatura. Segundo ele, Skaf recuou por motivações políticas e deixou o manifesto “acéfalo”.
No caso da reforma tributária, diz ele, os empresários estão extremamente insatisfeitos com o fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes, não ter atendido pleitos como a simplificação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o ajuste para aumentar a arrecadação sobre o comércio eletrônico, e a inclusão de um mecanismo para atualizar o valor contábil dos ativos, o que faria com que as empresas tivessem maior liquidez.
Mas para os bancos o grande “desconforto” com a equipe econômica está na cobrança de imposto sobre os dividendos, afirma. Na opinião dele, a Febraban “carregou a mão” ao se mostrar tão contrária à medida.
Mas para outro executivo, que integra o conselho de um grande banco de investimentos, a medida vai promover uma “cascata de tributos”, penalizando os acionistas. Para ele, a cobrança é “um grande absurdo”, mas os bancos não deveriam assumir um posicionamento político.
Na sua opinião, a Febraban deve se restringir a defender os interesses dos bancos, sem entrar no jogo político. Ao assinar o documento, diz ele, a entidade se expõe e ajuda o “palanque” de Skaf.
Este executivo do mercado financeiro diz que Skaf “reza” para que ele seja a “terceira via” tão ansiada pelos empresárias – numa alusão à provável disputa eleitoral de 2022, entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. E para isso o presidente da Fiesp usa a entidade, o Ciesp [Centro das Indústrias do Estado de São Paulo], o Sesi e o Senai como plataforma política, diz.
O nome de Skaf também não cai bem junto a um executivo que integra o conselho de uma grande rede varejista. O presidente da Fiesp é muito “paroquial”, interessado em assuntos que lhe favoreçam politicamente.
Este executivo do varejo apoiou o manifesto, que considerou equilibrado por dizer aos poderes para “baixar a bola”, uma vez que essa disputa “não está sendo boa para o Brasil”.
Mas fica horrorizado ao ver que tudo está polarizado: “até chamar para a paz” significa “assumir um lado”. Para ele, essa situação é “ridícula”, em um momento em que o Brasil precisa de consenso para voltar a crescer.
Dessa forma, diz esse executivo, o melhor é mesmo retroceder e não publicar o manifesto, que seria para unir todos em torno de um “bem maior e comum”.
Para o executivo que acompanhou a discussão do manifesto na Fiesp, uma das coisas que mais incomoda é ver o Congresso “batendo cabeça”, na votação de temas importantes para o empresariado, como a reforma trabalhista, tributária e previdenciária.
Sobre Skaf, ele disse que, quando o líder torna-se maior que a entidade, há algo errado.
Paulo Skaf termina em dezembro seu mandato de 17 anos à frente da Fiesp. A partir de janeiro, quem assume é Josué Gomes, dono da Coteminas. Procurado, o empresário informou, por meio da sua assessoria de imprensa, que “não comenta atos do atual presidente”.