Aposta no BRICS é lenta e deixa exportadores sob pressão do tarifaço

Comércio exterior brasileiro enfrenta alta de custos, perda de competitividade e incerteza fiscal enquanto aposta no Brics avança em ritmo lento e não compensa o impacto imediato do tarifaço dos EUA

Foto: Ricardo Stuckert/PR.
Foto: Ricardo Stuckert/PR.

O aumento das barreiras comerciais impostas pelos EUA estabeleceu um novo nível de complexidade para as empresas brasileiras inseridas no comércio exterior. O cenário atual é marcado por tarifas mais elevadas, desestruturação de cadeias produtivas e elevação contínua dos custos operacionais, o que impõe uma pressão significativa sobre a sustentabilidade e competitividade das exportações nacionais.

Diante desse contexto desafiador, torna-se evidente a urgência de diversificação dos mercados de destino, especialmente para mitigar os riscos associados à dependência de grandes economias que adotam políticas protecionistas.

Nesse ambiente volátil, a reaproximação do presidente Lula com lideranças internacionais do BRICS tem se destacado como uma estratégia de médio e longo prazo para reposicionar o Brasil dentro do bloco das economias emergentes.

A expectativa é que esse movimento possa abrir novas portas para acordos bilaterais e ampliar o acesso a mercados alternativos, menos sujeitos às tensões geopolíticas tradicionais.

No entanto, como alerta Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, “a aproximação com os Brics é estratégica no longo prazo, mas insuficiente para compensar, de forma imediata, as perdas causadas pelas novas barreiras comerciais”.

Essa observação destaca o descompasso entre as necessidades urgentes das empresas e o tempo necessário para que acordos multilaterais se traduzam em resultados práticos.

Na prática, os reflexos desse novo arranjo comercial já estão sendo vivenciados no dia a dia das corporações brasileiras, sobretudo daquelas com perfil fortemente voltado à exportação.

Essas empresas têm encontrado obstáculos crescentes para fechar contratos internacionais, enfrentando prazos mais longos, aumentos relevantes nos custos de insumos e uma pressão constante sobre as margens de lucro.

Como pontua Monteiro, “exportar fica mais difícil, custos sobem e o planejamento estratégico precisa ser revisto diante de um cenário externo mais hostil e um governo reativo”.

Esse novo contexto exige das lideranças empresariais uma capacidade de adaptação mais ágil, com revisão imediata das estratégias de mercado, da estrutura de custos e das formas de atuação internacional.

Além dos desafios comerciais e operacionais, há também um fator intangível, mas decisivo: a percepção de credibilidade do ambiente de negócios brasileiro.

A atratividade do país perante investidores estrangeiros está diretamente ligada à estabilidade institucional e à previsibilidade das políticas econômicas.

Monteiro observa que “a incerteza fiscal, somada às pressões comerciais, cria um ambiente mais cauteloso para o capital externo e obriga empresas a adotar estratégias de mitigação de risco mais robustas.

A previsibilidade passa a ser um ativo crucial para sustentar decisões de expansão e inovação”. Isso significa que, para além de reduzir custos e ampliar mercados, as empresas precisam, agora mais do que nunca, blindar-se contra riscos externos por meio de uma governança mais sofisticada e uma leitura constante do cenário macroeconômico.

Para o executivo, o Brasil precisa agir em duas frentes simultâneas para se manter relevante no comércio global: intensificar os esforços diplomáticos para ampliar acordos internacionais e, ao mesmo tempo, consolidar um ambiente doméstico mais estável, eficiente e atrativo para os negócios. Isso passa necessariamente pela implementação de políticas públicas que reduzam o chamado “Custo Brasil”, melhorem a produtividade e incentivem a inovação tecnológica como diferencial competitivo. Segundo Monteiro, a verdadeira chance de crescimento está justamente em transformar as dificuldades atuais em uma vantagem estratégica, utilizando a pressão externa como motor para reformas internas e reposicionamento global.