Estrutura swing states

EUA: eleições podem representar riscos geopolíticos?

Mauro destaca que as relações entre os EUA e a China, que já estão deterioradas, podem se agravar ainda mais

Foto: unsplash
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As eleições norte-americanas de 2024 prometem ser mais polarizadas do que nunca, influenciando diretamente a política externa dos EUA e suas relações com outras nações. 

Em entrevista ao BP Money, o economista e geopolítico José Mauro detalha as implicações dessa polarização e as possíveis diferenças nas políticas externas propostas pelos candidatos Joe Biden e Donald Trump.

Fabio Nogueira, economista geopolítico, ressalta que a “mudança de chave” nos EUA se deu em um período de pandemia. Momento marcado por inflação global, desabastecimento, aumento do custo de vida e redução da renda.

Além disso, a guerra na Ucrânia agravou a situação, com bloqueios econômicos impostos principalmente por europeus e americanos.

“Primeiro, sabemos que a mudança de chave nos EUA se deu em um período de pandemia, e que o mundo se tornou outro,” afirma Nogueira.

Medindo impactos nas relações internacionais

A polarização das eleições norte-americana tem implicações significativas para as relações internacionais. Mauro destaca que as relações entre os EUA e a China, que já estão deterioradas, podem se agravar ainda mais. 

“Durante o governo Biden, as relações sino-americanas também foram bastante tensas, o que sugere um componente estrutural nesse estremecimento,” explica. 

Segundo Mauro, uma vitória de Trump pode intensificar essas tensões, mas mesmo com Biden no poder, as relações com a China têm sido complicadas.

“Há uma percepção na sociedade americana de uma necessidade de interação mais tensa com a China,” acrescenta. Isso indica que a rivalidade entre as duas potências deve continuar, independentemente do vencedor das eleições.

Polarização e estabilidade Política

“Nada novo sob o sol”, assim é vista a polarização das eleições dos EUA. Isso porque, em linhas finas, os principais candidatos para ocupar a cadeira de liderança na Casa Branca, são o atual presidente, Joe Biden e o ex-presidente que antecedeu o atual, Donald Trump, democrata e republicano respectivamente.

Mas o cenário não é só repetitivo pela sensação de dejavú das principais figuras na disputa eleitoral estadunidense. José Mauro explica que a polarização na política norte-americana não é um fenômeno recente. 

O especialistas explica que a estrutura eleitoral dos EUA com seus swing states, foi concebida para reduzir a polarização e promover maior estabilidade. 

Nos EUA, o termo Swing State se refere a estados de uma federação onde, durante uma eleição, nenhum partido ou candidato detém uma maioria clara nas intenções de voto, tornando possível a vitória de qualquer um dos concorrentes.

“O fenômeno da polarização na economia na política americana não é recente. A política dos EUA é uma política estruturada para reduzir a polarização, desde quando ela foi concebida no passado”, afirma Mauro. 

Segundo o economista, nos swing states, os eleitores tendem a estar mais próximos do centro, o que favorece candidatos com discursos menos radicais.

No entanto, Mauro ressalta que a política americana tem se tornado cada vez mais polarizada nos últimos anos. 

“Obama já foi um presidente mais polarizado do que Clinton, e Trump foi ainda mais radical do que seus predecessores republicanos,” observa. Essa crescente polarização resulta em maior instabilidade, uma vez que os eleitores sentem que perdem tudo quando seu candidato não vence.

Biden x Trump nas políticas externas

Mauro analisa as principais diferenças nas políticas externas de Biden e Trump e como elas podem afetar as alianças e parcerias internacionais dos EUA. “Biden tende a seguir uma abordagem mais tradicional e multilateral, enquanto Trump pode adotar uma postura mais unilateral e agressiva,” comenta. 

Essas abordagens divergentes podem impactar alianças como a OTAN e parcerias com países do Oriente Médio. “A política externa de Trump pode levar a um afastamento de alianças tradicionais, enquanto Biden pode fortalecer esses laços,” afirma Mauro. Isso também se aplica à relação com a Rússia, onde a postura de Trump poderia ser mais conciliatória, enquanto Biden manteria uma postura mais dura.

EUA: àreas geopolíticas sensíveis

Mauro identifica áreas geopolíticas sensíveis que podem ser impactadas pelas eleições americanas, como o relacionamento com a China, Rússia e o Oriente Médio.

“O crescimento dos BRICS e os desdobramentos da guerra na Ucrânia serão temas centrais nos próximos quatro anos,” prevê. 

Ele explica que a postura americana em relação à China e à Rússia será crucial, especialmente com o fortalecimento das relações entre esses países e os membros dos BRICS.

“A postura americana vai ser determinada pelo vencedor da eleição, mas o contexto global de crescente polarização e tensão geopolítica é inevitável,” conclui.

Relação Brasil x EUA

A relação entre Brasil e EUA também pode variar significativamente dependendo de quem vencer as eleições americanas.

Mauro lembra que durante os mandatos de Lula, o relacionamento com o presidente republicano George W. Bush foi bastante tranquilo, apesar das diferenças ideológicas. “Na época, houve uma construção de uma relação saudável entre as partes,” comenta.

No entanto, ele ressalta que o cenário atual é mais complexo. “Hoje, a relação sino-americana é muito mais desgastada, e isso influencia diretamente a dinâmica global,” explica.

Uma vitória de Biden representaria maior previsibilidade, mantendo a continuidade das políticas atuais. Já uma vitória de Trump tornaria o processo mais imprevisível, exigindo uma nova construção de relacionamento entre os países.

Protecionismo e pautas ambientais

Fabio Nogueira analisa os potenciais impactos das políticas dos principais candidatos. Segundo ele, uma vitória de Donald Trump resultaria em um país mais protecionista, tanto em termos de imigração quanto de economia, com tendência a um maior isolamento.

“No caso de Donald Trump ganhar a eleição, teremos um país americano mais protecionista,” destaca.

Em contraste, Joe Biden favorece pautas ambientais e uma abordagem mais liberal, mas sua saúde e a composição do Congresso representam incertezas.

“Pesa também a suspeita de uma saúde frágil de Joe Biden, e quem será o seu vice-presidente,” acrescenta Nogueira.

A reportagem completa desenvolve esses pontos, analisando como cada cenário eleitoral pode afetar a recuperação econômica mundial e a relação entre Estados Unidos e Brasil.

José Mauro finaliza a entrevista com uma reflexão sobre o cenário global. “O mundo está mais estressado e complexo do ponto de vista de conflitos e problemáticas geopolíticas.

A eleição americana terá um papel crucial na definição das futuras relações internacionais,” concluiu.