Ex-presidente do BC

EUA estão tentando ‘ter mais reciprocidade’, diz Campos Neto sobre tarifaço

Segundo ele, se esse for o caminho, ainda é difícil mensurar, na atual conjuntura, se as tarifas são condizentes com essa estratégia

Roberto Campos Neto (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)
Roberto Campos Neto (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

O ex-presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, afirmou nesta sexta-feira (11) que, em seu entendimento, os EUA estão “construindo o caminho de tentar ter mais reciprocidade”. As declarações foram feitas durante o Advance: Investindo para o Amanhã, evento promovido pela Fami Capital em São Paulo.

Segundo ele, se esse for o caminho, ainda é difícil mensurar, na atual conjuntura, se as tarifas são condizentes com essa estratégia. “A tabela de tarifas divulgada não condiz totalmente com essa estratégia, apesar de já haver algumas modificações. Então, estaremos diante de dois movimentos distintos”, explicou o ex-presidente da autarquia.

Nesse sentido, Campos Neto traçou dois cenários para o Brasil. No primeiro, considerou a China como um dos maiores “clientes” das exportações brasileiras, mas acrescentou que o país asiático também exporta bastante para os EUA.

“Ela tem uma capacidade de produção um pouco ociosa atualmente e precisa encontrar outros mercados. Como a Índia tem um problema histórico com a China e já sinalizou que pode adotar tarifas”, disse ele.

Segundo o economista, já é possível notar uma intensificação no comércio da China com o Brasil. Ele aponta que isso poderá gerar pressão sobre o mercado local, com produtos entrando no país a preços mais baixos.

Olhando para os EUA, ele afirmou que muitos países já estão “sentando à mesa para negociar”. Além disso, previu que uma inflação mais forte deve atingir os consumidores norte-americanos. “Inflação nos Estados Unidos é algo que tira a popularidade do governo muito rapidamente”, afirmou.

Tarifa de importação do Brasil sobre os EUA é de 3%, não 11%

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender a imposição de tarifas mínimas de 10% sobre importações vindas de mais de 160 países. 

Segundo ele, a medida busca restaurar o equilíbrio comercial e garantir a “reciprocidade” nas trocas internacionais.

Para justificar essa decisão, Trump argumenta que os EUA pagam tarifas muito mais altas do que recebem de seus parceiros. 

No entanto, esse raciocínio desconsidera nuances importantes da estrutura tarifária de países em desenvolvimento, como o Brasil.

Diferença entre tarifas nominais e efetivas

De acordo com a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil possui uma alíquota média de importação de 11,2%, enquanto a dos EUA é de 3,3%. 

Esses números, embora verdadeiros, refletem apenas as tarifas nominais previstas por lei.

Na prática, no entanto, esse valor raramente é pago pelas empresas. 

Isso ocorre porque o Brasil adota uma série de incentivos e regimes especiais que reduzem o imposto efetivamente aplicado sobre produtos importados.