Superquarta

EUA seguram juros, mas temem crise; Brasil sobe Selic com tom 'dovish'

O consenso entre os especialistas é de que os juros nos EUA podem demorar mais do que o esperado para começar a cair

Café com BPM: mercados recuam com negociações sobre teto da dívida
Foto: divulgação

As decisões sobre os juros dos EUA e do Brasil foram anunciadas nesta quarta-feira (7). Sem muitas novidades, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 50 pontos-base, levando-a para 14,75% ao ano. Já o Fed (Federal Reserve), nos EUA, manteve os juros inalterados na faixa de 4,25% a 4,50%.

Segundo analistas de mercado, a decisão teve pouco impacto imediato sobre os preços dos ativos. No comunicado, foi destacado que, embora os anúncios de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre importações tenham afetado alguns indicadores — “notadamente o crescimento das importações no PIB do primeiro trimestre”, conforme comentou Danilo Igliori, analista da Nomad —, a economia norte-americana continua sólida, com baixos níveis de desemprego e inflação ainda elevada.

“Foi reconhecido que a incerteza aumentou em relação a março e que os riscos de piora da inflação e de enfraquecimento do mercado de trabalho aumentaram”, acrescentou Igliori.

Apesar do aumento das tensões nas relações comerciais dos EUA com outros países, o Fed manteve cautela ao abordar o tema, em linha com os sinais da reunião anterior. “O mercado segue precificando três novos cortes de juros pelo Fed este ano, enquanto a última sinalização dos dirigentes apontava mediana de apenas dois cortes”, afirmou Camilo Cavalcanti, gestor de portfólio da Oby Capital.

EUA: Fomc reconhece aumento das incertezas

“Embora a decisão de manter as taxas de juros não tenha surpreendido, o comunicado e a entrevista mostram claramente que o Fomc reconhece o aumento das incertezas”, comentou Igliori. Os receios estão ligados às políticas comerciais de Trump e aos riscos de deterioração do cenário macroeconômico, como inflação mais alta e desaceleração da atividade econômica.

“Powell foi enfático ao dizer que a economia permanece em boa forma e que ainda não é possível antecipar com precisão o que virá pela frente”, acrescentou. O Fomc, portanto, deve manter cautela e esperar por dados mais consistentes antes de promover mudanças mais relevantes na política monetária.

Apesar disso, o consenso entre os especialistas é de que os juros nos EUA podem demorar mais do que o esperado para começar a cair. O mercado ainda aposta em cortes a partir de julho, com reduções acumuladas entre 0,75 e 1,00 ponto percentual até o fim de 2025.

Brasil: Copom eleva Selic e não surpreende

A elevação da Selic para 14,75% ao ano veio em linha com as expectativas do mercado, refletindo a persistência dos núcleos inflacionários e a desancoragem das expectativas de inflação.

Segundo Carolina Kircher Herskovits, head de Relações com Investidores da Aware Investments, a alta também reflete “o aumento da percepção de risco fiscal, que tem pressionado a credibilidade do regime de metas e exige uma postura ainda mais restritiva da política monetária”.

“Esse novo patamar da Selic tende a aprofundar a retração do crédito e enfraquecer o consumo e os investimentos. Para os mercados, o cenário continua favorecendo a renda fixa, com prêmios elevados e retornos reais consistentes”, acrescentou Herskovits.

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, observou um tom relativamente dovish no comunicado do Copom. “Poderíamos dizer, portanto, que foi um dovish hike, ou seja, uma alta dos juros com um tom mais flexível”, afirmou.

Pelo que o Copom expressou nesse comunicado, ele encerrou o ciclo. Mas deixou a porta aberta, porque não ganhava nada encerrando o ciclo definitivamente aqui, ou contratando mais uma alta. Então ele deixou a porta aberta, disse que está recebendo dados, que está cauteloso”, completou Spiess.

A elevação da Selic tende a impactar setores sensíveis ao crédito, como o varejo e a construção civil, que enfrentam maiores custos de captação e menor consumo. No segmento de meios de pagamento, o crédito mais caro pode prejudicar pequenas e médias empresas.