À medida em que a decisão do Fed (Federal Reserve) sobre os juros se aproxima, vai se instaurando um clima pessimista entre os entendedores do assunto, que esperam uma postura mais agressiva, chamada de “hawkish”, por parte da autoridade monetária norte-americana.
A expectativa é que as autoridades do Fed optem por manter a taxa básica de juros inalterada. Caso a projeção se confirme, a taxa de juros permanecerá no nível mais alto visto em mais de duas décadas, situado entre 5,25% e 5,50%.
A decisão será deliberada após a reunião de política monetária de dois dias que teve início na última terça-feira (30) e será concluída nesta quarta-feria (1º).
Para Homero Guizzo, economista da Terra Investimentos, o cenário pode ser ainda mais preocupante. O especialista espera que o ciclo de cortes deve ocorrer somente em 2025.
A constatação de uma inflação mais robusta do que o esperado nos primeiros três meses do ano levou à postergação dos cortes nas taxas para um futuro próximo.
“O vigor da atividade e do crescimento da demanda agregada, além da resistência da inflação, devem levar o Federal Reserve a manter o juro básico no nível atual até o final do ano. Cortes de juro devem ser assunto para o ano que vem”, avaliou em resposta ao BP Money.
Diante disso, é provável que os dirigentes do Fed enfatizem sua disposição para manter as taxas estáveis por mais tempo, em um nível que a maioria deles acredita que terá um efeito significativo de contenção sobre a atividade econômica.
Sobre as probabilidades de corte, os investidores carregam suas expectativas para setembro, sendo lido como um mês favorito para o Fed iniciar o ciclo de redução nas taxas, segundo a ferramenta CME Fedwatch.
Ao BP Money, especialistas explicam que o prolongamento do aperto monetário é malicioso para os mercados globais, visto que impacta diretamente na liquidez das bolsas, apresentando maior limitação.
Postura agressiva do Fed e impactos no mercado global
De acordo com José Eduardo Pizzotti Machado, especialista em administração e finanças, além de co-fundador e CFO do Meu Imóvel, em um cenário em que o Fed confirme os sinais agressivos sobre a trajetória das taxas de juro, o dólar se manterá com ganhos robustos.
“O impacto global é dólar valorizado, menos recursos globais para os demais países (eventualmente até saída de fluxo de recursos), trazendo queda do custo relativo dos países e aumento de exportações”, explicou.
O profissional também cita o fluxo de investimentos globais para EUA, “tecnicamente segurando atividade econômica futura” para ancorar expectativa de inflação futura.
O economista Iago Zandonadi explica à reportagem que a manutenção dos juros nos maiores patamares dos últimos 20 anos afeta diretamente os fluxos de investimentos globais ao direcionar um grande volume de capital estrangeiro aos títulos de renda fixa americanos. “Em especial os do Tesouro Federal, considerados ‘livres de risco'”, disse.
“Isso pode gerar volatilidade nos mercados financeiros e afetar negativamente o crescimento econômico e a estabilidade financeira de outros países, pressionando os preços dos ativos”, avaliou.