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IA no software: gigantes de tecnologia dos EUA enfrentam perdas acionárias

A ascensão da IA pressiona o modelo SaaS e provoca quedas históricas nas ações de líderes de software nos EUA.

Novos contratos offshore chegam à B3 (Foto: Adobe Stock)
Novos contratos offshore chegam à B3 (Foto: Adobe Stock)

As empresas de tecnologia estão liderando a revolução da IA, mas, ironicamente, também sentem forte impacto de suas próprias criações. Ferramentas que escrevem e desenvolvem código mudam rapidamente a dinâmica do setor de software. Consequentemente, investidores percebem que os modelos tradicionais de SaaS estão sob ameaça, pressionando ações e aumentando a incerteza no mercado.

Salesforce, uma das líderes do setor, viu suas ações caírem 26% este ano, tornando-se a segunda pior performance entre os papéis do Dow Jones. Ao mesmo tempo, a Adobe registrou queda de 19%, e Atlassian perdeu 30% de valor. Em contraste, o S&P 500 subiu 10% e o Nasdaq Composite, focado em tecnologia, avançou 11%, evidenciando a discrepância entre o setor de software e o mercado em geral.

Além disso, analistas afirmam que essa pressão reflete a narrativa da “morte do software pela IA”, que aumenta a volatilidade e intensifica a insegurança dos investidores no curto prazo. Matthew Hedberg, da RBC Capital Markets, observa que as avaliações de software permanecem frágeis devido à rápida evolução das ferramentas de inteligência artificial.

Mudança de paradigma em software

O mercado enfrenta uma transformação significativa, segundo Ted Mortonson, estrategista da Baird. Empresas de software que antes eram queridinhas dos investidores agora lidam com riscos inéditos. A IA agêntica — sistemas capazes de operar sem supervisão humana — ameaça diretamente o modelo tradicional de aluguel de software. Modelos agênticos, também chamados de “vibe coding”, podem criar e desenvolver código de forma autônoma, reduzindo a dependência de assinaturas existentes.

“A volatilidade desta mudança tecnológica é sem precedentes e ocorre rapidamente”, afirmou Mortonson. Além disso, ele destaca que a pressão sobre o número de assentos nos sistemas SaaS representa um perigo crítico para o modelo de negócio tradicional. Analistas concordam que muitas empresas subestimaram a velocidade com que a IA consumiria sua participação de mercado, impactando diretamente gigantes como Adobe e Salesforce.

IA devorando o software

O capitalista de risco Marc Andreessen afirmou que “o software está devorando o mundo”. Hoje, Jensen Huang, CEO da Nvidia, reforça: “a IA está devorando o software”. Pesquisadores como Ben Reitzes, da Melius Research, confirmam que a IA permite que startups e grandes nuvens, como o Google, criem aplicativos competitivos de forma rápida e eficiente.

Além disso, Sam Altman, CEO da OpenAI, alerta que o setor caminha para a “era do fast fashion do SaaS”. Ao mesmo tempo, empresas tradicionais enfrentam concorrência direta de gigantes como Microsoft e Oracle, que expandem rapidamente suas capacidades em IA. Satya Nadella, CEO da Microsoft, destacou que a inteligência artificial impulsiona uma mudança fundamental no mercado de aplicativos de negócios, acelerando a migração de sistemas legados para plataformas agênticas.

Oportunidades e incertezas

Embora a IA represente uma ameaça, ela também oferece oportunidades para adaptação. Por exemplo, a Salesforce lançou sua própria ferramenta de IA agêntica, chamada “Agentforce”. Analistas afirmam que o setor de software ainda possui espaço para prosperar, desde que ajuste suas estratégias e monetização diante da nova realidade tecnológica.

Wall Street permanece cautelosa. Brent Thill, da Jefferies, considera os temores exagerados, destacando que a IA é uma onda transformadora e não um furacão destrutivo. Por outro lado, Ross Mayfield, estrategista da Baird, lembra que o panorama da IA pode mudar rapidamente, e muitas suposições sobre o futuro do setor devem ser questionadas.

Em resumo, gigantes do software enfrentam desafios inéditos. Contudo, a combinação de inovação, adaptação e estratégia definirá se essas empresas permanecerão líderes ou perderão relevância no novo cenário dominado pela inteligência artificial.