O Ibovespa experimentou uma alta repentina na última quarta-feira (9), mas o cenário positivo não persistiu. O indicador fechou no vermelho na quinta-feira (10), impactado pela guerra comercial e acompanhando o desempenho negativo dos mercados internacionais.
A reação dos investidores é permeada por preocupações generalizadas em torno dos efeitos das medidas inflacionárias do presidente dos EUA, Donald Trump. As chamadas “tarifas recíprocas” foram aplicadas a quase todos os países, especialmente à China — que aparenta ser o maior alvo de Trump.
O movimento gerou reações negativas nos mercados globais, causando forte volatilidade, inclusive no Brasil. “[O Ibovespa] vai sofrer, até porque os próprios ativos norte-americanos estão sofrendo com tanta instabilidade, tanta incerteza em relação à postura do Trump. Por mais que tenha havido uma calmaria [com a alta recente], ainda pairam dúvidas sobre os próximos passos”, comentou Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimentos.
Nesse contexto, historicamente, quando há turbulência nas bolsas, os investidores tendem a correr para ativos considerados seguros. Assim, commodities de “segurança”, como o ouro, e títulos do Tesouro — tanto brasileiros quanto dos EUA —, são os preferidos.
Uma das novidades anunciadas por Trump foi a suspensão, por 90 dias, das tarifas para todos os países — com exceção da China. A medida trouxe algum alívio aos mercados, mas a cautela segue sendo o pilar do momento, diante de uma conjuntura volátil em que exportadoras e empresas ligadas a commodities avaliam os impactos das tarifas.
Petrobras, que tem grande peso no Ibovespa, pode sentir efeitos
Nesse cenário, especialistas ouvidos pelo BP Money mencionaram algumas companhias que podem ser afetadas pelas medidas, mesmo que indiretamente. Uma das mais citadas foi a Petrobras (PETR4).
A tese é que as ações ligadas ao minério de ferro e ao petróleo — especialmente este último — já estão sendo pressionadas. Segundo os especialistas, essas empresas enfrentam o sexto pregão consecutivo de queda, com o barril de petróleo oscilando entre US$ 60 e US$ 75.
‘Trump tem uma postura extremamente agressiva’, diz ex-presidente da ABDI
O ex-presidente da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e atual estrategista-chefe da Brain Cenários Políticos e Econômicos, Luiz Augusto Ferreira, afirmou: “Trump tem uma postura extremamente agressiva do ponto de vista negocial”.
Segundo o economista, a estratégia de “jogar as taxas para cima” visa avaliar as condições que outros países terão para negociar ou promover “uma retaliação consistente contra os Estados Unidos, para então ele negociar mais, abaixar ou manter as taxas”.
Com isso, ele pontua que, no momento, não faz sentido o Brasil retaliar impondo tarifas. Contudo, ressalta a importância da reciprocidade para mostrar força como uma das dez maiores economias do mundo — sem, no entanto, ultrapassar os limites da diplomacia.