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Tarifaço pressiona Brasil e aquece interesse no exterior

Eduardo Molon, da Ável Investimentos, avalia impactos do aumento de tarifas americanas e indica caminhos para proteger e diversificar o portfólio

Foto: Joyce N. Boghosian
Foto: Joyce N. Boghosian

A decisão recente dos EUA de ampliar tarifas comerciais sobre uma série de produtos importados está gerando ondas de impacto nos mercados globais — e o Brasil não está imune.

A medida, que afeta diretamente setores como o agroindustrial e a siderurgia, já se reflete em queda nas ações de empresas exportadoras brasileiras e levanta preocupações quanto à inflação, ao câmbio e ao ritmo de entrada de capital estrangeiro.

Eduardo Molon, sócio e especialista em mercados internacionais da Ável Investimentos, um dos maiores escritórios de assessoria de investimentos do Brasil e com sede em Porto Alegre, analisa os efeitos do tarifaço na economia brasileira e aponta oportunidades de investimento em meio à incerteza.

Exportações sob pressão

Segundo Molon, o principal efeito das novas tarifas é o encarecimento dos produtos brasileiros para os consumidores americanos, o que reduz a competitividade das exportações nacionais: “Isso afeta diretamente o volume exportado, principalmente nos setores agro e de siderurgia. As ações de empresas frigoríficas já estão sofrendo forte queda na bolsa”, afirma.

Apesar de exceções pontuais, como o setor aeronáutico, a tendência é de redução na entrada de dólares no país, o que pode levar a um desequilíbrio na balança comercial. ‘Com menos dólares entrando, o real se desvaloriza e há pressão inflacionária, uma vez que produtos importados ficam mais caros para o consumidor brasileiro.

Além disso, países emergentes com tarifas inferiores ou até mesmo zeradas podem se beneficiar ao ocupar o espaço deixado pelos produtos brasileiros no mercado americano, o que amplia a concorrência entre mercados emergentes.

Dólar forte, inflação pressionada e juros elevados

Com a menor entrada de capital estrangeiro, o cenário é de valorização do dólar frente ao real. Para Molon, essa dinâmica compromete ainda mais a percepção de segurança jurídica no Brasil e reduz a atratividade para investidores globais.

A alta do dólar pressiona a inflação, sobretudo em setores dependentes de importação, como combustíveis, eletrônicos e eletrodomésticos. E isso adia qualquer expectativa de queda na taxa básica de juros.

O Banco Central manteve a Selic em 15% nesta semana, e Molon acredita que o ciclo de cortes será postergado justamente para conter a inflação e sustentar o real em um momento de volatilidade.

Oportunidade para diversificar o portfólio

Diante desse cenário de instabilidade, a principal orientação do especialista é a diversificação geográfica dos investimentos. “O investidor não deve manter todo o capital atrelado ao real. Recomendamos que cerca de 15% da carteira esteja alocada em ativos internacionais, preferencialmente em moedas fortes como dólar, euro ou franco suíço”, sugere.

Molon também alerta para os riscos em crédito privado, especialmente de empresas diretamente afetadas pelas tarifas. “Frigoríficos, por exemplo, estão no centro desse impacto, e os títulos dessas companhias podem se tornar mais arriscados.”

Apesar do cenário desafiador, há espaço para oportunidades. Para quem busca segurança, Molon destaca os títulos do Tesouro americano como uma opção conservadora e eficaz de diversificação cambial. Fundos internacionais e ETFs globais também aparecem como alternativas viáveis.

No mercado doméstico, os setores de energia, consumo básico e saúde despontam como opções mais defensivas na renda variável. Já na renda fixa, títulos indexados à inflação (IPCA+) ganham atratividade como forma de proteção patrimonial.

“É um momento de cautela, mas também de posicionamento estratégico. A diversificação, tanto em ativos quanto em moedas, é essencial para navegar esse ambiente de incertezas”, conclui o sócio da Ável.