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As tarifas impostas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, aos produtos do Canadá acenderam um alerta no país de que não pode mais depender dos EUA e, por isso, abre espaço para negociações com outros países, inclusive o Brasil. A avaliação é da chefe da diplomacia canadense na Alemanha, Evelyne Coulombe, em entrevista à “Exame”.
Mencionando acordos recentes com o Equador e com a Colômbia, a diplomata disse enxergar oportunidades de aprofundar relações com a América do Sul, inclusive o Brasil. Ao mesmo tempo, ela afirmou que as medidas adotadas pelo Canadá para adiar as tarifas são suficientes para que as taxas não ocorram de maneira brusca.
Ela mencionou, também, que menos de 1% do fentanil e a imigração ilegal aos EUA, motivos relatados por Trump para as tarifas, vêm do Canadá. Mesmo assim, o país está investindo US$ 1 bilhão para reforçar a fronteira, esperando que isso seja suficiente para que as taxas não sejam impostas em 4 de março.
Tarifas de Trump prejudicam o Brasil, mas trazem oportunidades
As tarifas prometidas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, devem causar efeitos mistos no Brasil, avaliam especialistas. Se por um lado o país pode sofrer diretamente com as novas taxas (no caso de tarifas ao aço e alumínio, por exemplo), também pode se beneficiar com os redirecionamentos de demanda decorrentes das tarifas.
Isto ocorre porque os principais alvos de Trump, especialmente a China, o México e o Canadá, podem acabar retaliando a imposição de taxas e, consequentemente, substituindo o país norte-americano pelo Brasil para o fornecimento de alguns produtos, principalmente commodities agrícolas.
Mesmo assim, há um risco significativo de prejuízos líquidos, avalia o CEO da Sinergy Advisors, Gustavo Valente. “As tarifas diretas sobre produtos brasileiros (como aço e alumínio) impactam setores estratégicos, enquanto a possível substituição de exportações de China, México e Canadá pode gerar oportunidades”, diz o especialista.
Já o analista Ângelo Belitardo, da Hike Capital, acredita que o saldo pode ser positivo, se Trump adotar uma postura protecionista sem atingir fortemente o Brasil. “Mas se o Brasil for incluído em restrições comerciais mais amplas, o impacto será negativo”, pondera.
A diferença é que os ganhos dependem de fatores externos, como a efetiva retaliação dos países afetados e a capacidade do Brasil de aumentar a produção. Enquanto isso, as perdas são imediatas.
“Além disso, uma guerra comercial global poderia reduzir o crescimento econômico mundial, afetando a demanda por commodities brasileiras”, lembra Valente. Para o CEO, o cenário mais provável é de um prejuízo moderado, amenizado parcialmente por ganhos pontuais.