
O presidente dos EUA, Donald Trump, terá uma conversa telefônica com o presidente russo, Vladimir Putin, nesta terça-feira (18). A expectativa é que o diálogo foque no cessar-fogo de 30 dias na guerra da Ucrânia, que a Rússia ainda precisa ratificar, apesar de ter apresentado algumas condições, além da possibilidade de buscar uma solução mais duradoura para o conflito, que já se estende por mais de três anos.
Esse telefonema será uma prova das habilidades de negociação de Trump e de sua relação com Putin, o que tem gerado cautela entre os aliados tradicionais dos EUA.
Na segunda-feira (17), Trump declarou na rede Truth Social que “muitos elementos” da proposta de acordo de paz foram aceitos por Putin, embora “muitos” ainda precisem ser discutidos.
“Milhares de jovens soldados, e outros, estão perdendo a vida. A cada semana, 2.500 soldados morrem, de ambos os lados, e isso precisa acabar AGORA. Estou ansioso pela ligação com o presidente Putin”, escreveu Trump.
O presidente dos EUA busca convencer Putin a apoiar sua proposta de cessar-fogo de 30 dias, a qual foi aceita pela Ucrânia na semana passada, enquanto ambos os lados seguiram realizando intensos ataques aéreos durante o fim de semana.
Entenda seis pontos que deverão estar na mesa na conversa entre Trump e Putin nesta terça-feira.
Território
Trump sugeriu que os EUA deveriam discutir com a Rússia e a Ucrânia a “divisão de certos ativos”, mas o que isso realmente implica? Especialistas apontam que poderia se referir a questões territoriais em um possível acordo, mas a viabilidade disso é questionada.
A Ucrânia já afirmou que não aceitará qualquer território ocupado pela Rússia como parte de um acordo, enquanto Moscou considera as quatro regiões parcialmente ocupadas no leste como parte de seu território, o que dificulta um consenso.
James Landale, da BBC, acredita que Trump provavelmente se refere a questões territoriais que precisariam ser resolvidas em um cessar-fogo de curto prazo, como a definição de uma “linha de contato” entre as forças em conflito, além do acesso seguro aos portos do Mar Negro. Esses pontos podem ser fundamentais para a redução das hostilidades imediatas, embora a situação permaneça complexa.
Por outro lado, Oleksandr Merezhko, presidente do comitê de relações exteriores do parlamento ucraniano, afirmou que a integridade territorial do país é um limite não negociável para qualquer acordo de paz com a Rússia.
Kursk se torna ponto chave nas negociações de paz
A região de Kursk tem sido um foco importante no conflito entre Ucrânia e Rússia. Em agosto passado, tropas ucranianas recapturaram parte da região, o que surpreendeu aliados de Kiev e causou constrangimento para Moscou.
Com o apoio de cerca de 10 mil soldados norte-coreanos, a Rússia conseguiu retomar territórios, incluindo a cidade de Sudzha, e agora visa recuperar totalmente a área. Jack Watling, do Royal United Services Institute, afirmou que os militares ucranianos tentaram usar Kursk como moeda de troca nas negociações, mas isso não se concretizou.
Durante uma visita à região, Putin pediu que as forças russas tomassem rapidamente qualquer área ainda sob controle ucraniano e considerou a criação de uma zona-tampão na região de Sumy, na Ucrânia.
No entanto, Kiev rejeitou qualquer limitação em suas capacidades de defesa, com Oleksandr Merezhko, do parlamento ucraniano, declarando que não podem aceitar as sugestões de Putin.
Destino da usina nuclear de Zaporizhzhia
Autoridades dos EUA indicaram que o destino da importante usina de geração de energia ucraniana será um tema nas negociações de paz com a Rússia, e a usina de Zaporizhzhia, a maior da Europa, é a principal candidata a ser mencionada.
Desde março de 2022, a usina está sob controle russo, e os riscos de um acidente nuclear devido aos combates na área continuam a ser uma grande preocupação.
Trump, em suas declarações, mencionou que ele e Putin discutirão “usinas de energia” durante a conversa de terça-feira, mas Vitaliy Shevchenko, da BBC, acredita que só a usina de Zaporizhzhia se encaixa nesse contexto.
Na quinta-feira, Trump também abordou a questão em uma entrevista, dizendo que havia “uma usina de energia muito grande envolvida”. Steve Witkoff, enviado de Trump, também confirmou que um reator nuclear vital para a eletricidade da Ucrânia precisa ser resolvido.
Embora a usina não forneça eletricidade desde setembro de 2022, o futuro de Zaporizhzhia permanece um ponto central nas conversas de paz, conforme mencionado até pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Otan: Rússia exige garantias de gegurança
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Grushko, afirmou que a Rússia exigirá garantias de segurança da Otan e dos EUA em qualquer acordo sobre a Ucrânia.
Entre essas demandas, está a exclusão da Ucrânia de uma possível adesão à Otan, algo que é uma grande ambição do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Grushko declarou ao jornal Izvestia que “somente por meio da formação de garantias de segurança inabaláveis será possível alcançar uma paz duradoura na Ucrânia”.
Porém, para a Ucrânia, essa é uma questão inegociável. O presidente do comitê de relações exteriores no parlamento ucraniano, Oleksandr Merezhko, afirmou que “Putin não deveria decidir isso”, destacando que a questão da adesão à Otan não está em negociação para o país.
Mais de 30 países formam coalizão para manutenção de cessar-fogo
Mais de 30 países devem se unir em uma “coalizão da boa vontade” para ajudar a Ucrânia, liderada pelo Reino Unido e França, conforme informou um porta-voz do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
O objetivo principal dessa coalizão será manter o cessar-fogo na guerra entre Rússia e Ucrânia. Cada nação envolvida contribuirá com tropas de manutenção da paz, com capacidades variadas, e um número ainda maior de países prestará apoio de outras maneiras.
Os detalhes operacionais da missão continuam em discussão, mas Starmer enfatiza que uma garantia de segurança dos EUA será essencial para garantir a paz.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou que ordenou a formação de uma equipe de negociadores, liderada pelo ministro da Defesa Rustem Umerov, que trabalhará com parceiros internacionais nos detalhes do sistema de segurança necessário para a Ucrânia.
A equipe ucraniana viajará a Londres esta semana para participar de uma reunião de “representantes militares” para discutir planos para uma força de manutenção da paz, caso um cessar-fogo seja acordado. No entanto, a Rússia se opõe à presença de tropas da Otan ou da UE em território ucraniano.
Reparação pela guerra
Na semana passada, Ucrânia e Estados Unidos anunciaram que, “o mais rápido possível”, finalizariam um acordo que garantiria ao governo americano o acesso à riqueza mineral da Ucrânia. Esta medida é vista como uma compensação pelos bilhões de dólares em armas enviadas pelo governo de Joe Biden à Ucrânia, conforme solicitado por Donald Trump.
Enquanto isso, a Rússia espera que as futuras reparações envolvam o uso dos lucros das reservas congeladas, incluindo os territórios anexados. A Ucrânia, por sua vez, busca que a Rússia pague uma reparação estimada em US$ 500 bilhões.
Uma possível proposta de consenso poderia combinar a utilização das reservas russas com os lucros advindos do acordo de exploração mineral entre os EUA e a Ucrânia.