O IPCA-15, prévia da inflação brasileira, de outubro deixou um gosto amargo no mercado. O dado indicou uma aceleração de 0,54% no mês, bem acima dos 0,13% registrados em setembro. O resultado também ficou acima do esperado pelo consenso LSEG de analistas, que previa alta de 0,50%.
Especialistas consultados pelo BP Money foram unânimes ao afirmar que o IPCA-15 de outubro acentuou a desancoragem das expectativas para a inflação. Ou seja, com este dado, o mercado vê o IPCA ainda mais distante da meta de 3%.
“Em um ambiente já deteriorado por conta de um cenário fiscal delicado e desancoragem das expectativas, um indicador de inflação mais forte definitivamente não ajuda”, destacou Helena Veronese, Economista-Chefe B.Side Investimentos.
Segundo o economista Maykon Douglas, portanto, os desafios para a inflação corrente e futura levarão o BC a apertar ainda mais a política monetária. A aposta do especialista é que de o Copom (Comitê de Política Monetária) elevará a Selic em 0,50 p.p na próxima reunião.
“Além da energia novamente mais cara, os núcleos de inflação vieram acima do projetado pelo mercado e se estabilizam em um patamar incômodo, longe da meta”, avaliou Douglas.
A projeção de Andre Fernandes, head da mesa de renda variável e sócio da A7 Capital, também é de alta da Selic. “Vemos um cenário inflacionário cada vez pior, e sem previsão de melhora no cenário fiscal para ancorar as expectativas de inflação, que poderia ajudar o país a ter juros mais baixos”, pontuou.
IPCA-15 é reflexo de piora da crise climática
De acordo com Veronese, não seria exagero dizer que a inflação de outubro foi uma inflação fortemente impactada pelas condições climáticas mais severas.
“A falta de chuvas fez com que a Aneel acionasse a bandeira tarifária mais cara para a conta de luz residencial, ao mesmo tempo em que segue prejudicando lavouras e pastos, o que já se reflete nos preços de carnes. O IPCA-15 de outubro capta de maneira bastante clara este movimento, e leva o acumulado em 12 meses ao maior patamar desde fevereiro deste ano”, disse a Economista-Chefe B.Side Investimentos.
A energia elétrica residencial passou de 0,84% para 5,29% na comparação mensal, enquanto a alimentação, grupo de maior peso no índice, registrou aumento de 0,87%, ante alta de 0,05% no mês anterior.
Paulo Gala, economista chefe do Banco Master, chamou atenção ainda para outro pilar da alta de preços: o mercado de trabalho aquecido. “Os serviços subjacentes vieram de alta de 0,0% para 0,59% em outubro, enquanto os serviços gerais foram de 0,17% para 0,27%, devido ao mercado de trabalho aquecido e desemprego baixo, chamado de choque de demanda”, disse.
Segundo Gala, este fator, somado ao impacto da seca nas contas de luz e nos alimentos, coloca a inflação “muito perto do teto da meta”, com “grande chance de estourar”. Ainda de acordo com Paulo Gala, novembro e dezembro também devem registrar níveis de inflação ruins.