Foto: Reprodução/Freepik
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O IPCA-15 de novembro, que subiu 0,20%, reforça o quadro de desinflação gradual e, ao mesmo tempo, revela que a economia ainda convive com focos persistentes de pressão em serviços.

O resultado do índice conhecido como “prévia da inflação” veio acima da mediana e acelerou na margem. Mesmo assim, os núcleos e a composição das altas permanecem favoráveis. Além disso, alimentos e combustíveis tiveram comportamento benigno.

Com isso, o ciclo de desaceleração segue preservado e ainda sustenta espaço para cortes graduais da Selic em 2024.

Pablo Spyer, conselheiro da ANCORD, observa que o IPCA-15 “veio levemente acima do esperado e cravou a meta de 4,50% em 12 meses”, reforçando que o processo de desinflação segue ativo, porém sujeito a ruídos.

Ele destaca que os preços monitorados continuam pressionados, alimentação e bebidas voltaram a subir após cinco meses, e a difusão da alta aumentou — ainda que os núcleos permaneçam em trajetória benigna, o que é positivo para 2025.

Para o mercado, afirma, o dado indica que o Banco Central deve seguir cauteloso, com apostas de início de corte de juros apenas no começo de 2026. “A mensagem principal é de vigilância”, diz, citando riscos oriundos de serviços e incertezas fiscais.

Composição do índice: pressão aérea e alívio em alimentos

A alta do mês foi marcada por contrastes. Passagens aéreas dispararam 11,87% e responderam pelo maior impacto individual do indicador, enquanto combustíveis recuaram e compensaram parte da pressão no grupo Transportes.

Despesas pessoais — novamente impulsionadas por hospedagem e pacotes turísticos — foram destaque de alta, seguidas por Saúde e Cuidados Pessoais.

Já alimentos no domicílio voltaram a cair, mantendo a inflação de bens industriais comportada, em linha com os descontos e promoções de novembro.

Mariana Rodrigues, economista da SulAmérica Investimentos, reforça que a surpresa altista do índice cheio foi “puxada principalmente pela forte pressão das passagens aéreas”.

Em serviços subjacentes, ela destaca o recuo contínuo do seguro voluntário de veículos, mas expressa preocupação com a aceleração dos itens intensivos em mão de obra — reforçando a pressão dos serviços no fim do ano.

Rodrigues também ressalta o comportamento “benigno” dos bens industriais, que superou tanto a projeção da casa quanto a mediana do mercado. Para ela, mesmo expurgando o efeito Black Friday, a trajetória segue favorável.

Desinflação firme, apesar de ruídos em serviços

Do ponto de vista qualitativo, a leitura foi considerada benigna por analistas. A média dos núcleos avançou apenas 0,27%, e a inflação subjacente de serviços desacelerou no trimestre móvel, caindo de 4,76% para 4,44% — um sinal importante para a política monetária.

Nas projeções internas de casas de análise, o dado gera “herança positiva” para o IPCA cheio de novembro e mantém projeções praticamente inalteradas: 4,3% em 2025 e 4,2% em 2026.

O economista-chefe da Nest Asset, Rodrigo Marques, vai na mesma direção. Ele afirma que o IPCA-15 veio acima do consenso por fatores “pouco relevantes para a condução da política monetária” e ressalta a surpresa positiva em industrializados e serviços subjacentes.

Com núcleos em trajetória benigna, Marques vê aumento da probabilidade de queda da Selic no primeiro trimestre de 2026.

Para Leonardo Costa, economista da ASA, o dado confirma que a inflação permanece comportada, ainda que sujeita a oscilações setoriais. “O IPCA-15 chegou com alta, mas mostrando que o ritmo de alta de preços permanece moderado”, diz.

Serviços pressionados por demanda resiliente

A resiliência dos serviços ligados a viagens e lazer foi um dos principais vetores de pressão. Para especialistas, esse comportamento está ligado a um consumo que desacelera lentamente, ainda sustentado por renda e ocupação consistentes.

Pedro Ros, CEO da Referência Capital, afirma que o acumulado em 12 meses, que caiu para 4,50%, confirma que a desinflação segue firme, embora viagens e lazer continuem pressionando. Para ele, esse cenário “aumenta previsibilidade e reduz riscos para quem busca proteção e construção de patrimônio”.

A leitura é semelhante à de João Kepler, CEO da Equity Group, para quem a demanda firme em serviços de maior valor agregado explica a resistência desse segmento à desaceleração.