IPCA: nova alta pode apagar trimestre de deflação

O consenso aponta para uma alta de 0,53% no mês, atingindo 5,8% no ano

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial no País, registrou um trimestre – entre julho e setembro – de deflação, acumulando queda de 1,33% no período. Porém, uma nova alta neste mês de novembro, aliada ao avanço de 0,59% em outubro, pode acabar apagando de vez os meses de quedas. 

“A deflação com cortes do ICMS e deságio em combustíveis tem um efeito artificial no curto prazo e pouco contribui para prazos maiores e tampouco afeta as decisões do Banco Central na decisão de juros. A deflação gerada acabou até nublando a desaceleração de outros grupos da inflação. Bens industriais e alimentos já mostram descompressão de custos relevante, que se traduz em queda de alguns preços”, afirmou Beto Saadia, economista e sócio da BRA BS, ao BP Money. 

O IPCA registrou deflações nos três meses impulsionadas pela redução no preço dos combustíveis, na esteira da desoneração do ICMS, da queda recente nos preços internacionais do petróleo e dos cortes que a Petrobras têm feito nos preços da gasolina nas refinarias. Dois desses fatores foram produzidos pelo Governo, a fim de utilizar a queda na inflação na campanha eleitoral. 

Projeção para novembro é de nova alta no IPCA

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga os dados da inflação nesta sexta-feira (9). De acordo com economistas ouvidos pela reportagem, o consenso aponta para uma alta de 0,53% no mês, atingindo 5,8% no ano. Apesar da nova alta, o que se estima é que haja uma desaceleração em relação ao desempenho de outubro.

“O IPCA deve trazer uma desaceleração, mas investidores ficarão atentos especialmente à composição do índice. Devem vir menores avanços para serviços, bens industriais, combustíveis (Petrobras reduziu novamente o preço da gasolina e do diesel), além das promoções da Black Friday que ajudaram à aceleração menor do IPCA”, afirmou Saadia.

Por mais que a Black Friday traga certo alívio para o índice, alguns outros núcleos devem pressionar a alta. “Na direção oposta, o grupo de Alimentação no Domicílio deve seguir pressionado por produtos in natura e leite e derivados”, completou o economista e sócio da BRA BS. 

2023 deverá ser mais um ano de estouro do teto da meta para inflação

Economista e CEO da Philos Invest, Rafael Marques acredita que é esperado para 2023 que a questão do ICMS volte para os combustíveis, o que trará forte pressão dos preços dos combustíveis. Para ele, o cenário de inflação para o próximo ano será complicado. 

“O Focus vem subindo a projeção da inflação para 2023, e com essa discussão toda em relação a PEC da Transição, fica ainda mais complicado o cenário de inflação para esse ano. Provavelmente teremos mais um ano de estouro do teto da meta para inflação. Para ela ser abaixo de 4,75%, precisará de muita ginástica. Avaliando para 2023, ficará acima da meta”, afirmou Marques. 

Para Saadia, a expectativa em 2023 é de uma desaceleração bastante proeminente. “Estamos com taxa de juros em patamares bastante restritivos, principalmente por conta de ruídos no front fiscal do governo. Além disso, já vemos sinais de desaceleração mais forte em diversos segmentos. A recessão global e a desaceleração no ritmo de altas de juros nos EUA e Europa também contribuem positivamente para nossa inflação”, afirmou. 

Saadia ainda destaca que, além da normalização da cadeia de oferta provocada pelas sucessivas quarentenas, a demanda por tais bens vem recuando devido do aumento da Taxa Selic. Nesta quarta (7), o Copom manteve a taxa básica de juros do Brasil em 13,75% ao ano. 

“Para alimentos, em 2023, as questões climáticas devem permitir boas safras de grãos, cereais e alimentos in natura. Além disso, a oferta da proteína animal também deve continuar em alta. Na parte do governo, a nossa situação mais endividada resultará em menos poder de estímulo à economia, reduzindo o consumo e investimentos no curto prazo pressionando menos o mercado de bens e serviços”, concluiu o economista.