
O Brasil e os EUA vivenciam dinâmicas inflacionárias distintas, com diferentes pressões econômicas, embora ambos os cenários exigem atenção. No ambiente doméstico, a inflação continua a ser um desafio significativo, impulsionada por uma combinação de fatores internos, como o aumento de custos em alimentos e serviços, e externos, como problemas climáticos que afetam a produção agrícola.
No caso dos EUA, a inflação mostra sinais de desaceleração, refletindo uma situação relativamente mais controlada, mas que ainda demanda monitoramento, especialmente com o Fed (Federal Reserve) mirando sua meta de inflação.
Paulo Gala, economista chefe do Banco Master, destaca esses contrastes e explica como esses cenários impactam as decisões econômicas em ambos os países.
Os dados de inflação indicam um aumento nos preços, sugerindo que a taxa Selic pode subir ainda mais. Paulo Gala destacou o impacto significativo da inflação no Brasil, especialmente com o IPCA de fevereiro atingindo 1,31%, o maior número para o mês em 22 anos.
Para ele, o índice ficou acima do esperado, refletindo aumentos expressivos nos preços de produtos essenciais como ovos e café. “O número sempre assusta, 1,31%, não é pouca coisa”, afirmou Gala, comentando a alta de 15% nos preços dos ovos e 10,8% no café moído.
Já nos EUA os, o índice de preços ao consumidor (CPI) mostrou uma alta mais moderada, com uma elevação de apenas 0,2% no mês de fevereiro, bem abaixo das expectativas.
“É uma boa notícia, o núcleo do CPI também veio abaixo do esperado, subindo 3,1%, quando o esperado era 3,2%,” concluiu, ressaltando que o cenário inflacionário nos EUA é mais controlado do que no Brasil.
Desafios do BC na política monetária
As análises apontam para um cenário desafiador tanto para a população quanto para os mercados, com o BC (Banco Central) precisando manter uma postura cautelosa e continuar com uma política monetária restritiva para combater a inflação, enquanto as famílias enfrentam perdas no poder de compra e dificuldades econômicas.
Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, destaca que a alta do IPCA reflete um cenário de dificuldades para o Banco Central.
“O IPCA subiu confirmando a pressão inflacionária esperada. […] Esse dado reforça um cenário desafiador para a política monetária, em um momento em que a inflação acima da meta mantém o Banco Central em alerta, podendo limitar cortes futuros na Selic”, avaliou.
O especialista completou destacando que o imoacto imediato será sentido no consumo das famílias, com perda de poder de compra e pressão sobre os juros futuros.
Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, compartilha uma visão semelhante sobre os desafios da política monetária.
“Embora que o índice do IPCA veio em linha com o mercado, ele assusta por ser a maior referência desde 2003, continuando com o centro da meta bastante acima, forçando não só o próximo aumento do BC de 100 bips, que já está consolidado na última ata, mas sim continuar com o aumento da Selic nas próximas reuniões”, reforça.
Inflação no radar do Fed
Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, comentou sobre os dados de inflação dos EUA, destacando que o CPI de fevereiro veio conforme esperado.
“Nos Estados Unidos, temos o CPI, que é o grande evento do dia. A expectativa era que ele viria de 0,3 em fevereiro, e na base anual ficaria 2,9 versus 3 no mês anterior. Ele veio em linha com o esperado, o que é positivo. Fica a expectativa de corte de juros pelos Estados Unidos, principalmente ao longo do segundo semestre, se a inflação continuar como vem vindo”, disse,
Já Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio, apontou que os dados do CPI de fevereiro confirmam a desaceleração da inflação americana, o que pode indicar uma abordagem mais cautelosa do Federal Reserve.
“A leitura do CPI de fevereiro confirma uma trajetória de desaceleração gradual da inflação nos Estados Unidos, o que reforça a percepção de que o Federal Reserve pode manter uma postura mais paciente em relação a novos aumentos de juros”, avaliou
O CEO ainda completa afirmando que a tendência de queda dá espaço para o Fed avaliar possíveis ajustes na política monetária ao longo do ano. “O mercado deve interpretar esses dados como um sinal positivo, com impacto direto nas taxas de juros futuras e no apetite por ativos de risco”, disse.