O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) nesta quinta-feira (10), e a expectativa é de que a sequência de deflações seja interrompida neste mês de outubro, como explica Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS. No último dia 25 de outubro, o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), a prévia do índice oficial de inflação do Brasil, registrou inflação de 0,16% em outubro, após ter mostrado deflação de 0,37% em setembro.
“A expectativa é que o IPCA de outubro confirme o fim da sequência baixista, com o índice mantendo-se com variações positivas até o final do ano, reflexo do fim do efeito da diminuição de impostos sobre combustíveis. Pode haver alguma pressão sobre alimentação, por conta da sazonalidade das festas de fim de ano, que também pode pressionar o setor de serviços”, afirmou Nishimura ao BP Money.
O IPCA registrou deflações nos últimos três meses impulsionadas pela redução no preço dos combustíveis, na esteira da desoneração do ICMS, da queda recente nos preços internacionais do petróleo e dos cortes que a Petrobras têm feito nos preços da gasolina nas refinarias. Dois desses fatores foram produzidos pelo Governo, a fim de utilizar a queda na inflação na campanha eleitoral.
“Essa inflação é ainda um ajuste esperado de uma deflação artificial provocada por decretos de governo nos meses anteriores. A inflação atual que ainda insiste em pressionar o índice é a de serviços, muito por conta ainda do processo lento de reabertura da economia pós-covid e também pelo excesso de estímulos dados pelo governo em período eleitoral. Outras pressões que foram relevantes no ano foram alimentos e combustível, mas que deram algum alento nos meses anteriores”, destacou Beto Saadia, economista e sócio da BRA BS.
“A deflação que tivemos foi artificial. A base da ‘canetada’, um pouco diferente do governo Dilma, que segurou preços administrados no último ano de governo, mas seguindo a mesma essência de modificar preços artificialmente. A prática não só é inútil para reduzir inflação no médio prazo como ainda pode provocar um efeito rebote da inflação voltar com ainda mais força”, completou Saadia.
No entanto, para Nishimura, essa nova alta não está relacionada às medidas impostas pelo governo. “O que ocorre é que os efeitos das medidas, que possibilitaram queda dos índices, a partir de agora cessaram, ou seja, deixamos de ter um componente até certo ponto artificial, que aliviava pressões altistas”, explicou o economista e sócio da BRA BS.
Nesta semana, o boletim Focus voltou a elevar a expectativa para alta do IPCA em 2022, enquanto que as medianas para 2023 e 2024, foco da política monetária, ficaram estáveis nesta semana, acima do teto e do centro da meta para os respectivos anos.
A projeção para 2022 avançou de 5,61% para 5,63%, contra 5,71% há um mês. A previsão para 2023 continuou em 4,94% e para 2024 permaneceu em 3,50%. Há quatro semanas, as medianas eram de 5,00% e 3,47%, nessa ordem.
“A menor inércia inflacionária, aliada à demanda arrefecida pela política monetária contracionista no Brasil e países desenvolvidos, as projeção para inflação vêm sendo revisadas para baixo, com o IPCA pouco acima de 5%. O índice oficial de inflação pode fechar abaixo desse patamar caso se mantenha a desoneração de PISCOFINS em combustíveis, que teria um impacto da ordem de -0,50 p.p. no IPCA”, analisou Nishimura.
IPCA para 2023 dependerá do novo arcabouço fiscal
Já para Saadia, o Banco Central fez o que deveria ser feito no papel de controlar a inflação, o desafio agora será “no fiscal e na negociação do orçamento de 2023 e no novo arcabouço fiscal. Tudo isso contribui para um câmbio mais controlado ajudando a reduzir a inflação”.
No ano, o IPCA acumula alta de 4,09% e, nos últimos 12 meses, de 7,17%, abaixo dos 8,73% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. “De toda forma, a tendência geral é que a inflação desacelere por diversos motivos macroeconômicos. A taxa de juros no Brasil encontra-se em níveis muito restritivos e uma desaceleração global – ou até recessão-, contribui ainda mais para uma desaceleração de preços de commodities que nos ajuda a controlar o índice de preços”, concluiu Saadia.