O IPCA de dezembro subiu um pouco abaixo do previsto, mas segue dentro das expectativas e reforça o pessimismo do mercado para a economia, avaliam especialistas. A inflação fechou o ano a 4,83%, percentual acima do teto da meta, de 4,5%
“O cenário não mudou, e é de continuidade de subida de juros, nessa magnitude de 1%. Acho que veio muito em linha com a expectativa nossa e do mercado”, comenta o estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital, Marcelo Bolzan.
Além disso, os números apontam para um novo pico de inflação em janeiro, avalia o analista de investimentos do Andbank, Fernando Bresciani.
O índice divulgado nesta sexta-feira (10) mostrou uma alta de 0,52% na inflação brasileira, ante estimativas do “Broadcast” de um avanço de 0,53%. A inflação cresceu em relação a novembro, quando o IPCA foi de 0,39%.
“Hoje (10 de janeiro) tem uma possibilidade das curvas de juros cederem um pouco. Como o dado veio um pouquinho abaixo, então pode ser que o mercado entenda isso como um bom número”, diz Bolzan, lembrando que, para o futuro, os números indicam uma trajetória mais pessimista.
O economista Maykon Douglas também não espera grandes mudanças. “O IPCA fechou o ano como se esperava, com qualitativo muito ruim e novamente acima da meta“, comenta. A projeção de Douglas é de que o índice feche o ano em 5,1%.
“As pressões no dólar são o principal risco nesse cenário, que dependerá bastante de temas como a política econômica nos EUA e a percepção sobre o fiscal doméstico”, explica o economista.
Por sua vez, o conselheiro do Corecon-SP Carlos Eduardo de Oliveira Júnior defende que a inflação de 4,83% em 2024 não é tão alarmante e está apenas “um pouco acima da meta de inflação”, com uma alta em dezembro puxado pelos alimentos, que tiveram um aumento de preços “natural”, considerando a alta do consumo sazonal no fim do ano.
Dessa forma, o conselheiro projeta uma inflação dentro da meta em 2025. “É óbvio, você tem que ter uma preocupação um pouco maior e isso acaba impactando principalmente o Banco Central (…), mas por outro lado a gente percebe também que vários outros índices estão dentro da meta de inflação”, comenta.
Como ficou o IPCA em dezembro
Em 2024, as altas foram influenciadas especialmente pelo grupo de alimentação no domicílio, que aumentou 1,17%, com destaque para as carnes, como a costela (6,15%), alcatra (5,74%) e contrafilé (5,49%). Um dos principais fatores para a alta dos preços foi a desvalorização do real em relação ao dólar.
O único setor com baixas foi o de habitação, que teve queda de 0,56%, influenciado pela bandeira verde na energia elétrica, destaca Bolzan.
“O núcleo de serviços também foi destaque negativo, interrompendo o ciclo de desaceleração e se tornando fonte de preocupação nos últimos meses”, comenta o economista da instituição financeira ASA Leonardo Costa. Com isso, a equipe da ASA projeta um IPCA de 5,5% em 2025, com o câmbio e serviços ainda elevados.
A inflação acima do teto em 2024 não foi uma surpresa, uma vez que os comunicados do BC (Banco Central) já previam o estouro. Dessa forma, os dois aumentos de 1% que o BC já havia sinalizado devem se concretizar, segundo Bolzan.