
O IPCA de novembro subiu 0,18% e marcou a menor variação para o mês desde 2018. O movimento veio após a desaceleração de outubro e manteve a inflação em 4,46% em doze meses, abaixo do teto da meta.
Para o mercado, o dado ficou próximo das projeções e reforça a leitura de um processo de desinflação em curso, mas ainda com sinais de pressão em alguns grupos.
Segundo a ANCORD, o resultado confirma um cenário que ainda exige atenção do Banco Central:
“O IPCA de novembro avançou 0,18% e confirmou a retomada da pressão inflacionária após a desaceleração de outubro”, avaliou Pablo Spyer, conselheiro da entidade.
Ele destacou que o índice segue influenciado por serviços, em especial passagens aéreas e turismo, enquanto alimentos e bens industriais ligados à Black Friday ajudaram a segurar o indicador.
IPCA, serviços e núcleos de inflação no foco do Copom
Mesmo com a inflação abaixo do teto da meta, os núcleos de inflação seguem no centro das atenções do Banco Central. Para a ANCORD:
“A inflação veio abaixo do teto da meta, mas ainda mostra resistência nos núcleos, o que mantém o Banco Central cauteloso”, afirmou Spyer.
Na mesma linha, o economista Maykon Douglas ressaltou que o dado de novembro ficou próximo das expectativas e reforçou a melhora recente dos núcleos:
“A inflação medida pelo IPCA subiu 0,18% em novembro. Embora acima do resultado de outubro, o número veio em linha com o esperado e representa a menor variação mensal para o mês desde 2018.”
No acumulado de doze meses, ele lembrou que o índice recuou para 4,46%, voltando ao intervalo da meta:
“Com mais este resultado em novembro, o IPCA voltou ao intervalo da meta no acumulado em doze meses, algo que o consenso julgava improvável nos últimos meses.”
Douglas destacou ainda o comportamento dos núcleos de serviços:
“Os núcleos vieram comportados. O núcleo de serviços desacelerou de 4,5% para 4,0% na média anualizada e dessazonalizada dos últimos três meses.”
ANCORD vê ciclo de corte de juros começando em 2026
Na avaliação da ANCORD, o início do ciclo de corte de juros depende de sinais mais claros de alívio em serviços e preços administrados.
Spyer resumiu a leitura da entidade:
“O início do ciclo de cortes de juros dependerá de sinais mais claros de desaceleração dos serviços e dos administrados. Caso essa tendência se consolide, o processo pode começar de forma gradual ao longo do primeiro trimestre de 2026.”
Para ele, o tom do comunicado do Copom desta quarta-feira será decisivo para calibrar a precificação de mercado sobre a taxa Selic:
“O início dos cortes, seja em janeiro ou março, vai depender do tom do comunicado do Copom. É essa sinalização futura que deve balizar as apostas para a decisão de janeiro.”
Quando o Copom pode cortar a Selic, segundo o mercado
Na visão de Maykon Douglas, a combinação entre IPCA de novembro, núcleos de inflação e mercado de trabalho aponta para um início de cortes mais provável a partir de março:
“Sigo achando mais provável que o Copom comece a reduzir a taxa Selic em março de 2026, e não em janeiro.”
Ele ressaltou, porém, que o dado de novembro melhora a avaliação da autoridade monetária sobre o processo de desinflação:
“O resultado de hoje eleva a confiança da autoridade monetária na desinflação corrente.”
Em suma, Douglas também comentou a dinâmica dos serviços subjacentes e dos serviços intensivos em trabalho, que vinham preocupando analistas:
“Serviços subjacentes voltaram a ficar abaixo de 6,0% na comparação anual. Os serviços intensivos em trabalho desaceleraram ligeiramente na métrica de três meses. O número ainda é alto, mas pode melhorar à medida que o mercado de trabalho perca fôlego.”
Para o fechamento do ano, o economista projeta IPCA em 4,3%, patamar próximo, mas ainda ligeiramente acima do centro da meta.