IPOs em 2023? Analistas desconfiam da possibilidade

Depois de um 2022 de seca, o mercado espera ansiosamente pela volta dos IPOs

Diferente de 2021, quando a B3 registrou um número recorde de IPOs, movimentando mais de R$ 65 bilhões, 2022 foi um ano de seca. O ano passado foi o primeiro sem abertura de capital de novas empresas na Bolsa desde 1998. Marcado por um período de tensão eleitoral, que culminou na eleição de Lula (PT), o Brasil também registrou longas altas na taxa Selic e inflação alta. Além disso, os investidores acabaram sendo impactados pela forte alta dos juros nos EUA. 

Para 2023, os analistas consultados pelo BP Money desconfiam da possbilidade de novos IPOs, após um ano de nervosismo para a bolsa brasileira. Os especialistas afirmam que os primeiros meses do governo Lula serão essenciais para consolidar ou atrapalhar esse movimento. 

Novos IPOs serão feitos no primeiro ano do governo Lula? 

A falta de uma oferta de ações na Bolsa de Valores brasileira em 2022 ocorreu logo na sequência de um ano com recorde no número de IPOs. Em 2021, cerca de 46 empresas estrearam na B3. Na época, os investidores e companhias estavam eufóricos, aproveitando que a taxa de juros brasileira se encontrava em um patamar baixíssimo no começo do ano. Em março, para exemplificar, a Selic se encontrava no patamar de 2,75%.  

Na visão de Ricardo Rodil, líder de Capital Markets do Grupo Crowe, novos IPOs serão realizados em 2023, porém voltarão em um ritmo mais lento. O analista disse que o governo Lula não tem dado sinais ao mercado que será responsável no âmbito fiscal, dificultando e retardando a entrada de novas empresas na bolsa. 

“O novo governo não tem transmitido ao mercado nenhuma certeza de que haverá disciplina fiscal que possa debelar as pressões inflacionárias. O governo Lula em si não está conseguindo levar ao mercado segurança suficiente de que haverá ‘clima’ para janelas de oportunidade suficientemente confiáveis para embarcar em IPOs”, relatou.

“É de se esperar que 2023 seja um ano propício para IPOs, especificamente no seu segundo semestre, mas não creio que possa se esperar uma ‘enxurrada’ de IPOs. As estimativas do mercado, com as quais concordo, se situam entre 15 e 20 IPOs em 2023, mas alerto que grande parte dessa tendência começará a ser mais bem definida nos primeiros meses do novo governo, em função das suas posições a respeito do reequilíbrio fiscal no menor prazo possível e do rumo de reformas que estão no forno: administrativa, tributária e política”, complementou Rodil.

Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed, explica que, para 2023, o mercado esperava que o Banco Central cortasse a taxa de juros, visto que a inflação tem dado sinais de arrefecimento nos últimos meses. Segundo o analista, no entanto, o novo governo Lula já sinalizou que irá aumentar os gastos públicos, movimento que poderá forçar um aperto monetário, atrapalhando a realização de novos IPOs.

“O mercado trabalhava com a ideia de que poderia haver corte nas taxas de juros, tendo em vista que a inflação já dá sinais de arrefecimento. Apesar disso, o novo governo sinaliza para um eventual aumento dos gastos públicos. A própria PEC da Transição abre espaço para isso”, afirmou. 

“O presidente do BC, Roberto Campos Neto, já declarou que, se houver qualquer tipo de descontrole fiscal, continuará com o ciclo de aperto monetário. Então com juros altos, o cenário será desafiador para IPOs, pois a alta dos juros traz um ambiente mais contracionista. O dinheiro fica mais caro, fazendo com que as empresas deixem de financiar projetos e expandir os seus negócios”, completou Petrokas.  

Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, partilha da visão de Petrokas, crendo que uma alta dos juros iria desmotivar as empresas a buscarem fazer seu IPO na bolsa.

“As expectativas para esse ano são as menores possíveis, pois nosso custo de oportunidade aqui ficou muito alto. O que seria o custo de oportunidade? Ele seria o que nós faríamos com o dinheiro que seria captado pelos IPOs. No momento, a gente tem uma taxa de juro muito alta. Fora que o primeiro relatório Focus deste ano mostra que há uma alta probabilidade da Selic aumentar, desmotivando muito as empresas a fazerem o IPO”, explanou. 

PEC da Transição poderá atrapalhar a chegada de IPOs?

Aprovada no final de dezembro, a PEC da Transição, essencial para cumprir as promessas de campanha do presidente Lula (PT), prevê um furo do teto de gastos em R$ 170 bilhões pelos próximos quatro anos para garantir o pagamento do Bolsa Família de R$ 600 a partir de janeiro e um adicional de R$ 150 por criança de até 6 anos. Segundo Rodil, a proposta econômica irá atrapalhar a vinda de novos IPOs. 

“A PEC da Transição ou, como jocosamente tem sido apelidada, PEC da Gastança dificilmente poderia ser um fator positivo para estimular IPOs. E este desestímulo não se limita ao exercício de 2023, mas deverá ter reflexos nos anos seguintes”, disse. 

Já Licio da Costa Raimundo, professor de Economia na Facamp, crê que a proposta financeira do governo Lula não irá afetar a ocorrências de IPOs em 2023, pois sua aprovação na Câmara e no Senado demonstrou que o presidente Lula sabe dialogar com o legislativo, algo visto pelo analista como algo fundamental para a retomada do crescimento econômico brasileiro,

“A PEC da Transição, ao meu ver, não deve afetar a ocorrência de IPOs ao longo de 2023. Eu sei que alguns órgãos de imprensa estão tentando ver essa PEC como uma coisa negativa, mas existe um outro lado. A força de negociação que o novo presidente tem junto ao Congresso abre perspectivas para 2023. Caso uma relação mais positiva seja criada entre o executivo e o legislativo, pode haver uma retomada do crescimento da economia brasileira, renovando as expectativas de ampliação dos IPOs”, explicou.

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