As questões no Oriente Médio são motivo de dor de cabeça para investidores internacionais, especialmente pelos conflitos envolvendo Israel e Irã. No pregão de quinta-feira (10), o petróleo negociado na Nymex e na ICE fechou com alta de quase 4%.
A alta da commodity ocorreu devido a preocupações por parte do mercado em relação à escalada do conflito entre os dois países. Foi noticiado que o gabinete de segurança de Israel se reuniria na quinta-feira para decidir se teria ou não uma resposta ao ataque de mísseis balísticos do Irã. A ofensiva do Irã ocorreu no dia 1º de outubro.
Como consequência, houve uma série de pronunciamentos, incluindo o do presidente dos EUA, Joe Biden. Nesse contexto, surgiu a possibilidade de uma retaliação envolvendo um ataque às petrolíferas iranianas.
Após muita conversa dos EUA internamente, e com Israel, Biden voltou a público para dizer que não compactuaria com nenhum tipo de retaliação envolvendo ataques às bases nucleares do Irã. O ponto é que, de modo velado, o presidente dos EUA disse que não atacaria as petrolíferas iranianas.
“Isso [retaliação de Israel com apoio dos EUA] teria um impacto e um efeito econômico global muito ruinoso. Iria pressionar e fazer disparar o custo, o valor do petróleo, pressionando a inflação americana e, historicamente, o que as guerras produziram de mais nocivo”, explicou ao BP Money o economista da Corano Capital, Bruno Corano.
Cenário: Israel quer atacar, mas EUA parece frear movimento
Ainda que o governo israelense esteja propenso a uma retaliação ao Irã, os EUA parecem estar mais cautelosos quanto ao conflito.
Na última quarta-feira (9), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, deu a entender que um ataque é iminente.
“Quem nos atacar será ferido e pagará um preço. Nosso ataque será mortal, preciso e, acima de tudo, surpreendente; eles não entenderão o que aconteceu e como aconteceu. Eles verão os resultados”, disse Netanyahu em vídeo divulgado por seu gabinete após uma ligação de 30 minutos com Biden.
Na contramão desse “espírito afoito”, os pronunciamentos dos EUA beiram a “passar panos quentes”.
Nesse sentido, o Secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, chegou a declarar que o país queria que Israel evitasse medidas retaliatórias que pudessem gerar uma nova escalada por parte dos iranianos.
Entenda como o Líbano ‘entra’ na história
O Irã é um ferrenho apoiador de determinados grupos armados que têm uma postura ‘anti-Israel’. O Hezbollah é um desses grupos. No dia 28 de setembro, o governo israelense afirmou ter matado o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um ataque em Beirute, capital do Líbano.
Após a investida, o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, declarou que o bombardeio não marcou o fim das operações de Israel.
“Este não é o fim de nossas ferramentas”, declarou Halevi. “A mensagem é simples: qualquer um que ameace os cidadãos de Israel — saberemos como alcançá-los”, completou.
O conflito entre o Irã e Israel ocorre há décadas e, no início de outubro, o território libanês foi palco para o início das movimentações recentes que geraram receio nos mercados, especialmente no setor de commodities.
O Líbano já teve uma relevância significativa, como um centro financeiro e de serviços no Oriente Médio, mas, após crises econômicas e instabilidades políticas, o país teve sua importância enfraquecida nos últimos anos.
“O mercado externo enxerga que o país ainda tem potencial, especialmente no setor de energia, mas precisa de grande investimento e muito trabalho para recuperar sua importância local”, comentou o analista de negócios e advogado especializado em Relações Internacionais, Daniel Toledo.
Petróleo é uma das commodities mais afetadas pelos conflitos em torno do Irã
Segundo os analistas ouvidos pela BP Money, o Irã é um forte exportador de petróleo, bem como um produtor. Sua produção é de cerca de 3,2 milhões de bairros por dia, tendo como maior destino das exportações a China.
“Mesmo assim, diante de um ataque às instalações de produção e exportação de petróleo iraniano, outros estados, como aqueles da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, ou até mesmo a Rússia, poderiam diminuir as perdas imediatas de uma perturbação de curta duração ali no Golfo Pérsico”, explicou o professor de Relações Internacionais da Universidade Cruzeiro do Sul, Conrado Baggio.
Então, se de fato ocorrer um ataque às petrolíferas iranianas, o que seria observado seria o aumento dos preços internacionais de commodities e das ações atreladas a elas.
“A curto prazo, a Petrobras ficaria pressionada a aumentar os preços do diesel e da gasolina, o que colocaria um dilema para o governo: aceitar um repasse desses custos para o consumidor ou tentar interferir na Petrobras”, disse Baggio.
“O petróleo ainda é e vai continuar sendo por um tempo o oxigênio. O segundo oxigênio do mundo depois do verdadeiro oxigênio”, completou o economista Bruno Corano.