Imposto de Renda: Receita libera consulta ao 4º lote de restituição
Serão pagos 5 lotes da restituição do Imposto de Renda | Foto: Divulgação

A ampliação da faixa de IR (Isenção do Imposto de Renda) para salários de até R$ 5 mil mensais, e a redução da tributação até R$ 7.350, deve dar um fôlego à classe média e impulsionar o consumo no próximo ano.

Economistas estimam que a medida, aprovada pelo Congresso e enviada à sanção do presidente Lula, pode injetar entre R$ 20 bilhões e R$ 28 bilhões na economia em 2026.

Para compensar a renúncia fiscal, o texto prevê alíquota mínima de 10% para rendas acima de R$ 50 mil mensais. Embora o governo diga que a mudança beneficia os mais pobres, o impacto será maior no meio da pirâmide, segundo estudo da Tendências Consultoria obtido pelo GLOBO.

A nova faixa de isenção substitui o limite atual de R$ 3.036, o equivalente a dois salários mínimos. A maioria dos beneficiados está no Sudeste (51%), especialmente em São Paulo, e tem perfil típico de classe média: empregados formais, com ensino superior e renda familiar estável.

“Essas pessoas estão longe de serem pobres”, afirma Thiago Xavier, consultor da Tendências.

A professora Fernanda Martins, de 32 anos, é um dos rostos por trás das estatísticas. Coordenadora de uma escola municipal no Rio, ela deixará de pagar cerca de R$ 230 mensais em imposto. O dinheiro, diz, vai ajudar a realizar o sonho da casa própria.

“Essa folga vai me permitir investir num imóvel com mais segurança e lidar melhor com imprevistos”, afirma.

De acordo com o economista Marcos Pazzini, da IPC Marketing, o efeito da medida deve ser sentido gradualmente, já que parte das famílias tende a usar o alívio tributário para quitar dívidas antes de ampliar o consumo.

“Com o endividamento ainda alto, essas famílias devem equilibrar as contas e, só depois, voltar às compras”, avalia.

Mesmo assim, o público beneficiado, majoritariamente das classes C e B, tende a aumentar gastos com bens duráveis e lazer, especialmente diante da Copa do Mundo de 2026, quando o comércio costuma ganhar impulso.

A Tendências projeta impacto de R$ 20 bilhões no consumo, enquanto o FGV Ibre estima R$ 28 bilhões e o Made/USP, entre R$ 23 bilhões e R$ 27 bilhões.

Para o pesquisador Guilherme Klein, da USP, a mudança torna o sistema tributário “um pouco mais progressivo”, mas ainda distante do ideal.

“O sistema brasileiro continua regressivo. A taxação maior sobre altas rendas é inédita, mas ainda insuficiente”, diz.

Popularidade e impacto político

A mudança no IR tem amplo apoio popular: 79% dos eleitores aprovam a medida, segundo pesquisa Quaest/Genial de outubro. Para o cientista político Felipe Nunes, 90% dos entrevistados acreditam que a mudança trará alguma melhora em sua situação financeira.

“Se a eleição fosse hoje, haveria reflexo positivo para Lula”, avalia Nunes.

Apesar disso, analistas ponderam que o alívio no IR não deve gerar um ciclo robusto de consumo, já que os juros seguem altos e o endividamento das famílias ainda preocupa.